O Congresso dos Estados Unidos tem até terça-feira, 30 de setembro, data em que se encerra o ano fiscal, para aprovar o orçamento e evitar uma paralisação do governo.
Se os parlamentares não chegarem a um acordo até essa data, o Executivo americano pode enfrentar um novo shutdown, interrupção parcial das atividades estatais por falta de verba, que pode afetar desde o funcionamento de agências federais até o pagamento de servidores considerados “não essenciais”.
O mecanismo remonta à Lei Anti-Deficiência de 1884, que veda que órgãos federais gastem mais do que foi autorizado sem a aprovação do Congresso; a prática exige que, anualmente, sejam aprovadas 12 leis de dotações para financiar os gastos públicos e, na ausência de consenso, áreas sem verba entrem em paralisação.
Posicionamentos políticos
O risco de shutdown foi reconhecido pelo próprio presidente Donald Trump (Partido Republicano), que afirmou que uma paralisação do governo “pode ser, sim, provável” diante de um impasse com os democratas.
Daniela Freddo, professora do Departamento de Economia da UnB (Universidade de Brasília), declarou ao Poder360 que “o mercado está, de fato, apostando em um shutdown nos EUA”.
A Câmara dos Representantes aprovou uma prorrogação dos gastos até novembro, mas a maioria republicana no Senado necessita do apoio de senadores democratas para aprovar a medida, e as partes divergem sobre a composição do orçamento.
Os republicanos, pressionados pela ala mais conservadora, defendem cortes mais severos em programas sociais e uma redução dos gastos federais, argumentando que o déficit público segue em trajetória insustentável; o projeto de lei republicano pode ser consultado na íntegra (PDF).
Por sua vez, os democratas sustentam a manutenção de investimentos em saúde, educação e infraestrutura, afirmando que as reduções propostas pelos republicanos prejudicariam milhões de famílias americanas.
Risco de paralisação e medidas emergenciais
Sem entendimento entre as bancadas, nenhuma das propostas avança. A Casa Branca determinou que agências se preparem para demissões em massa, indo além das licenças temporárias adotadas em shutdowns anteriores, segundo Freddo.
Entre as alternativas ainda disponíveis estão a aprovação do orçamento completo para o ano fiscal de 2026 (outubro de 2025 a setembro de 2026) ou a adoção de uma continuing resolution, medida temporária que mantém os níveis de gasto atuais por semanas ou meses até um acordo definitivo.
Uma eventual paralisação produziria efeitos imediatos na economia americana.
Segundo Freddo, as consequências podem incluir redução temporária do crescimento do PIB; atrasos em serviços públicos e em processos regulatórios; servidores considerados não essenciais em licença não remunerada ou até demissões permanentes; suspensão ou adiamento de contratos governamentais; e maior percepção de risco político.
Efeitos nos mercados
Nos mercados financeiros, um shutdown tende a elevar a volatilidade de ações, juros e câmbio, provocar fuga de capitais para ativos de refúgio como Treasuries e ouro e prejudicar setores que dependem de contratos ou aprovações governamentais.
O impacto costuma ser contido quando a paralisação é breve, mas a possibilidade de demissões em massa intensifica a gravidade dos efeitos potenciais.
O calendário fiscal explica em parte a recorrência desses impasses: ao contrário do ano civil, que vai de janeiro a dezembro, o ano fiscal federal nos EUA termina em 30 de setembro.
Freddo observa que esse prazo fixo “concentra as negociações e aumenta a pressão por soluções temporárias, como a proposta de extensão do financiamento até 21 de novembro”.
Embora a economia e os mercados normalmente se recuperem após um acordo, a escalada retórica, incluindo trocas de acusações entre Trump e líderes democratas e a ameaça explícita de demissões em massa, amplia a percepção de instabilidade e preocupa investidores, pois sinaliza que a governabilidade americana está cada vez mais sujeita a confrontos partidários.
