Nina Horta foi uma cronista excepcional, capaz de temperar suas palavras com a mesma destreza que um chef usa para preparar suas receitas. Em sua obra “Não é sopa” (Companhia das Letras, 2001), ela introduz o conceito de “comida perversa”, que se refere a aquelas iguarias deliciosamente inusitadas, mas que, ao mesmo tempo, trazem a consciência de seus efeitos negativos.
As reflexões de Nina sobre comida vão além do paladar, revelando categorias que expressam contradições e prazeres secretos. A aceitação de comidas como pipoca com ketchup ou brigadeiro com queijo tem um componente social; na era anterior ao culto dos “likes”, esses gostos eram guardados para o intimismo da cozinha.
Mudanças culturais ao longo dos séculos mostram que o que é considerado brega ou indulgente na gastronomia evolui. Desde a época de Luís de Camões, as questões sobre o que consumimos e como isso nos define têm sido debatidas. Na verdade, o que comemos pode refletir nossa identidade e desejos ocultos.
Hoje, a “comida perversa” ressurge nas tendências sociais e nas redes, onde combinações inusitadas e pratos bizarros desafiam normas e agradam aos curiosos. Entre as novas criações culinárias, encontramos desde hambúrgueres feitos de ravióli a doces com combinações surpreendentes.
É possível reavaliar a ideia de comida brega à luz das inovações contemporâneas. O contexto atual permite a aceitação de sabores estranhos, onde a mistura de ingredientes, mesmo inusitada, pode ganhar popularidade. Embora a criatividade na cozinha possa seduzir, é importante reconhecer os limites do bom gosto.
A análise do comportamento alimentar e suas implicações na vida moderna nos faz refletir. A incessante busca por novidades e a aceitação de receitas extravagantes mostram como a culinária continua a evoluir, desafiando nossos paladares e preconceitos.
As novas tendências na gastronomia estão sempre em transformação, e com elas, a forma como percebemos e desfrutamos a comida. Esse tema permanece relevante e provocante, convidando todos a explorar o universo das delícias “perversas”.