5 de dezembro de 2025
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Lucidez terminal: o que é e como a ciência a explica

Entre os vários temas sensíveis dos cuidados paliativos, destaca-se um dos mais enigmáticos: o fenômeno denominado “melhora da morte”, também conhecido tecnicamente como lucidez terminal.

Continua após a publicidade

Descrito por equipes de saúde, pacientes e familiares, manifesta-se em um momento específico: horas ou dias antes do óbito, quando, de forma inesperada, pessoas em fase terminal apresentam uma curta recuperação da consciência, da energia e da capacidade de interação com o ambiente.

Embora seja documentada, essa ocorrência segue gerando controvérsias na prática clínica, na ética médica e nas relações com a família. O que, afinal, se conhece sobre esse quadro?

Continua após a publicidade

Características da fase final da vida

A fase final da vida caracteriza-se por uma doença avançada e irreversível, como demências em estágio terminal ou câncer metastático. Nessa etapa, a evolução leva a um quadro em que a morte é considerada iminente: em dias ou semanas.

Nesse cenário, os cuidados passam a priorizar exclusivamente o conforto do paciente e o alívio dos sintomas, com ênfase nos cuidados paliativos e no suporte emocional à família. Entre os sinais mais comuns estão:

  • Fraqueza intensa;
  • Redução da ingestão alimentar;
  • Alterações do estado mental;
  • Respiração irregular;
  • Diminuição da interação com o ambiente.

O fenômeno conhecido como “melhora da morte”

Mesmo com a progressão do quadro, médicos e parentes podem observar uma melhora súbita e inexplicável da consciência do paciente, frequentemente após longo período de estupor ou coma.

Essa melhora, geralmente espontânea e de curta duração, surge sem intervenção clínica específica e costuma provocar forte impacto entre os familiares, que muitas vezes interpretam o episódio como sinal de recuperação.

Os sinais relatados nesse fenômeno incluem:

  • Aumento de energia para dialogar com familiares;
  • Retorno do apetite ou aceitação de alimentos;
  • Alívio da dor sem alterações importantes na medicação;
  • Elevação do nível de consciência, com maior lucidez.

Entretanto, esses episódios não seguem um padrão estabelecido. Sua ocorrência e intensidade variam conforme a doença, o tratamento em curso e a resposta individual do organismo.

O que a ciência sabe até o momento

Embora pouco investigada, a lucidez terminal aparece na literatura científica e é reconhecida por equipes de cuidados paliativos como um possível aspecto do processo de morrer. As principais hipóteses são:

  • Alterações fisiológicas: a liberação de neurotransmissores como adrenalina e endorfinas pode produzir sensação de bem-estar, alívio da dor e maior energia;
  • Flutuações metabólicas: variações nos níveis de oxigênio e na circulação sanguínea que afetam temporariamente a função cerebral;
  • Reação emocional e social: o organismo pode mobilizar um “esforço final” para permitir interações de despedida e resolução emocional.

Por ser imprevisível e de difícil estudo em ambiente controlado, o fenômeno permanece cercado de incertezas. Há falta de estudos clínicos robustos que confirmem sua frequência ou expliquem seus mecanismos de forma conclusiva.

Impacto emocional, cultural e espiritual

Mesmo com lacunas no conhecimento científico, a melhora da morte tem forte valor simbólico e emocional. Muitas famílias encaram esse momento como oportunidade de despedida, ajuste de contas ou manifestação espiritual. Diferentes tradições religiosas oferecem interpretações que reforçam essa percepção:

  • Cristianismo: a morte é vista como passagem para a vida eterna, e a lucidez final é percebida como momento de reconciliação e graça;
  • Islamismo: a clareza mental antes da morte é entendida como dom de Allah para permitir despedidas e mensagens finais;
  • Budismo: sem a noção de ego eterno, esse estado de consciência pode ser uma oportunidade espiritual rumo ao nirvana;
  • Espiritismo: a morte é uma transição e, conforme obras de Allan Kardec, a lucidez pode ser favorecida por presenças espirituais que trazem serenidade e compreensão.

Dignidade até o fim da vida

A medicina reconhece que o processo de morrer não é linear. Oscilações nos sinais vitais e no estado geral são esperadas e podem gerar a impressão equivocada de recuperação.

Nessas circunstâncias, o cuidado deve priorizar a presença da família, o conforto, o silêncio, a oração, e possibilitar que a pessoa parta em paz.

Conclusão

A “melhora da morte” segue como um fenômeno envolto em mistério. Apesar de vários relatos de profissionais e familiares, não existem evidências científicas consistentes que expliquem por que ocorre, nem há garantia de que se repita em todos os casos.

O término da vida constitui uma experiência complexa, influenciada por fatores biológicos, emocionais, culturais e espirituais. Por isso, reconhecer e acolher manifestações como essa, com empatia e clareza, integra o compromisso dos cuidados paliativos: preservar a dignidade e o conforto até os últimos instantes.

Continua após a publicidade

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Vitória, ES
Amanhecer
04:53 am
Anoitecer
06:11 pm
22ºC
Chuva
0mm
Velocidade do Vento
2.57 km/h
06/12
Sáb
Mínima
21ºC
Máxima
25ºC
07/12
Dom
Mínima
21ºC
Máxima
26ºC
08/12
Seg
Mínima
23ºC
Máxima
28ºC
09/12
Ter
Mínima
23ºC
Máxima
28ºC

Volta Ecológica defende os Manguezais de Vitória

Tony Silvaneto

Leia também