Na hora de alimentar as crianças, é comum encarar o prato com desconfiança, empurrar o garfo e fechar a boca diante de um alimento novo. Embora frustrante, essa resistência faz parte do desenvolvimento infantil e é natural. Entre 2 e 6 anos, quando as crianças exploram o mundo e buscam segurança no que já conhecem, adotar estratégias lúdicas na introdução alimentar pode tornar as refeições mais atrativas e prazerosas.
Brincar também é experimentar
Em vez de transformar a refeição em confronto, é possível encarar o momento como uma oportunidade de brincar. “A criança aprende principalmente por meio da experiência. O brincar converte o dia a dia em vivências que promovem aprendizagens significativas”, afirma Elisabete da Cruz, pedagoga com especialização em educação transdisciplinar e autora do livro “Uma eleição saborosa” (Ciranda na Escola).
Na avaliação da pediatra Patrícia Consorte, “comer é um processo de experimentação”. Quando a criança pode tocar os alimentos, sentir seus aromas, observar as cores e até integrar brincadeiras de faz de conta, estabelece uma relação de curiosidade e confiança com a comida, consolidando comportamentos alimentares.
Não existe uma brincadeira universal que funcione para todas as famílias. Os próprios alimentos apresentam formas, tonalidades e sabores que podem despertar interesse, seja durante uma ida ao supermercado, numa visita ao hortifrúti ou no preparo da lancheira.
“Preparar receitas simuladas, cozinhar ao lado da criança, brincar com comidinhas de faz de conta ou promover momentos em família são oportunidades para despertar curiosidade e tornar a introdução alimentar lúdica”, explica Elisabete.
Além disso, atitudes simples deixam o prato mais atraente: cortar frutas em formatos divertidos, usar talheres coloridos ou permitir que a criança escolha um ingrediente na feira.
“Pequenas ações assim ampliam a sensação de protagonismo e aumentam a disposição para experimentar novos alimentos.”
O simbolismo do brincar também contribui: histórias e jogos são recursos úteis para facilitar a introdução de alimentos e, sobretudo, para reduzir a resistência a certos sabores, aponta a pedagoga.
Histórias que abrem o apetite
Sem dúvida, a atitude dos adultos durante as refeições tem papel decisivo. “O cérebro infantil possui neurônios-espelho, então a criança tende a reproduzir o que observa”, ressalta a pediatra.
As crianças absorvem comportamentos pelo exemplo; quando percebem prazer e equilíbrio nos adultos, costumam imitá-los. Em contrapartida, cobranças, chantagens ou recompensas transformam a refeição em fonte de tensão. “A introdução alimentar é um processo natural do desenvolvimento humano. A ludicidade ajuda, mas nada substitui o exemplo”, complementa Elisabete.
Um equívoco frequente é oferecer o prato já pronto, mesmo que decorado de forma lúdica, sem possibilitar o contato direto com os ingredientes. “Ir ao mercado local, selecionar, higienizar, sentir a textura e apreciar as cores precede a descoberta dos sabores”, enfatiza a pedagoga.
Patrícia alerta ainda para o risco de forçar a criança a comer ou compará-la a irmãos e colegas, atitudes que podem aumentar a resistência. “É fundamental confiar na capacidade da criança de autorregular o apetite e manter uma rotina alimentar equilibrada.”
Vale lembrar que o apetite varia conforme o crescimento. Após o primeiro ano, é comum que a criança passe a consumir menos; por isso, paciência é essencial.
“Permitir autonomia e escolhas transforma a refeição em uma lembrança positiva de convivência tranquila, fazendo da alimentação um momento prazeroso para toda a família.”
Menos cobrança e mais confiança na alimentação
Essa busca por experiências alimentares mais naturais se insere em um movimento maior: o consumo de produtos orgânicos no Brasil cresceu 30% em 2023, conforme dados da Organis.
Diante desse cenário, empresas têm ampliado opções para a primeira infância. A Brasgroup, por exemplo, lançou a linha Natuzinho, composta por papinhas orgânicas desenvolvidas para bebês a partir dos seis meses, feitas apenas com frutas e sem adição de açúcar, conservantes, glúten ou lactose.
“Há uma mudança na maneira como as pessoas se relacionam com a alimentação; as famílias demonstram maior preocupação com a origem dos alimentos, especialmente na nutrição infantil”, afirma Maurício Benedek Moas, diretor-executivo da empresa.
Embora sejam pensadas para bebês, as papinhas Natuzinho também surgem como alternativa prática em outras fases da rotina. Esse movimento de inovação no mercado infantil está alinhado ao que a pediatra recomenda: respeitar o tempo da criança, oferecer variedade e fazer da introdução alimentar um processo lúdico, fluido e prazeroso.








