Criar um filho adolescente pode ser comparado a aprender uma nova língua dentro de casa familiar. Aquela criança que antes corria para o colo, agora prefere sua privacidade, responde com brevidade e demonstra maior interesse pelos amigos do que pela família. É neste turbilhão de mudanças que surgem as reflexões sobre como manter a presença paterna positiva sem ser opressiva ou como preservar o vínculo afetivo mesmo com a aparência de afastamento.
Apesar do silêncio, das portas fechadas e das discussões típicas dessa fase, é possível superar as dificuldades e fortalecer os laços familiares. Uma orientação da psicanalista e terapeuta integrativa Beatriz Langer sugere que no centro das conquistas está a capacidade dos pais de manterem uma figura de apoio confiável, sem se tornar invasivos ou excessivamente reativos.
Beatriz enfatiza que fornecer uma escuta verdadeira, constância emocional e limites coerentes é fundamental. Muitas vezes, o amor é mais bem expresso através da tolerância à frustração do adolescente do que em manifestações diretas de carinho.
A fase da adolescência e seus desafios: compreendendo melhor
Lilian Vendrame, neuropsicóloga e especialista em adolescência, destaca que nesta fase ocorrem transformações hormonais e neurológicas que influenciam humor, impulsividade e necessidade de se integrar ao meio social. É quando os jovens dão prioridade aos amigos, valorizam sua privacidade e começam a questionar as figuras autoritativas. “Anteriormente, os pais eram perfeitos. Agora, muitas vezes, tornam-se os ‘vilões’, simplesmente porque estabelecem limites”, observa Lilian.
O afastamento do adolescente não deve ser visto como uma demonstração de desrespeito, mas como um elemento natural do processo de individuação e desenvolvimento de valores independentes sem descartar completamente os princípios familiares. Nesta etapa, os pais podem se sentir rejeitados ou alijados, experimentando a perda daquela criança que um dia conheceram intimamente. Tal sensação é normal e deve ser recontextualizada.
A neuropsicóloga frequentemente ouve dos pais relatos como “ele não deseja conversar mais comigo” ou “estou com dor pelo menino que foi”. Aqui reside a sutil sabedoria do pé da letra: “O adolescente talvez tenha mais necessidade dos pais do que antes, mas não saiba expressar seu desejo. Em vez de dar tantos conselhos, é necessário se disponibilizar mais para escutar. O papel paternal por excelência nesta jornada não é monitorar ou questionar exaustivamente, sim garantir uma base segura, uma presença acessível, e acolhedor sem preconceitos.
Lilian enfatiza ainda que o movimento de distanciamento é transitório, não simboliza uma ruptura definitiva. No entanto, comportamentos de extrema reclusão, drásticas alterações de ânimo, problemas acadêmicos graves ou declarações depreciativas de autoestima devem ser analisados seriamente, podendo indicar demanda por intervenção de profissionais qualificados.
Segundo Beatriz, vários aspectos influenciam na forma como o adolescente vivencia sua fase juvenil: “As vivências permeadas de gratidão são análogas às sementes plantadas em um terreno fértil: tudo sobrevive e floresce conforme os cuidados, as chuvas torrenciais e solícitas imprimem no solo.
Gestos cotidianos e seu significado vital na saúde mental dos adolescentes
Gestos modestos podem fazer toda a diferença: confeccionar a iguaria predileta do filho, dedicar horários para assistir a filmes ou reservar um tempo para rememorar algum alimento apreciado na infância reiteradamente criam situações de intimidade genuína entre pais e filhos.
Não menos importantes são os bilhetes afetuosos, as mensagens espontâneas e um sincero interesse pelas músicas e séries colecionadas por eles, que servem eficazmente como gestos inaudíveis do afeto paterno. Beatriz destaca: “Demonstramos nossos desejos aos adolescentes ao deixar claro que estamos atentos aos seus desejos e aspirações.”








