Nem sempre o corpo apresenta sinais claros. É importante prestar atenção a indicações sutis, que podem se manifestar como sono agitado, perda do olfato ou dificuldade persistente para evacuar. Assim, podem surgir de maneira silenciosa os sintomas da doença de Parkinson, uma condição neurológica degenerativa que vai além dos tremores nas mãos.
Embora frequentemente associada aos tremores, a doença de Parkinson apresenta manifestações mais complexas no corpo.
A doença afeta diretamente o sistema nervoso central e surge de forma sistêmica. Isso implica impactos não apenas na força física e na velocidade dos movimentos, mas também no humor, sono, trato gastrointestinal e controle cardiovascular.
De acordo com a médica fisiatra Ana Rita Donati, da AACD, alguns sintomas do Parkinson são facilmente negligenciados, como “queixas gástricas, dificuldade para evacuar, distúrbios do sono, hipotensão (pressão arterial baixa) e perda do olfato”.
A condição resulta da malformação da proteína alfa-sinucleína, depositada em uma área do cérebro chamada substância negra, essencial para o controle motor, cognição e funções límbicas. Essa condição prejudica a produção de dopamina, neurotransmissor crucial para o controle motor.
Quando os sinais são sutis
Na maioria dos casos, o diagnóstico ocorre apenas quando os sinais motores se tornam evidentes, o que pode demorar até 15 anos desde o início silencioso da doença.
“Normalmente, conseguimos diagnosticar apenas quando o paciente já está na fase motora da doença, apresentando sintomas como tremor, instabilidade postural, lentidão dos movimentos e rigidez muscular”, explica Ana Rita.
O principal sintoma do Parkinson é o tremor de repouso, quando a pessoa está parada, um tremor assimétrico. Outros sinais incluem instabilidade postural com tendência à inclinação, rigidez articular e lentidão de movimentos.
O neurocirurgião Marcelo Valadares, da Unicamp, destaca que “os sinais não motores podem ser igualmente debilitantes”. A identificação precoce e o tratamento adequado das manifestações não motoras são essenciais no acompanhamento dos pacientes.
Identificação e tratamento contínuo
O diagnóstico da doença de Parkinson é clínico, baseado nos relatos do paciente, exames físicos e testes neurológicos. Exames de imagem, como ressonância magnética, ajudam a descartar outras causas, como tumores ou AVC.
Embora sem cura, o tratamento pode controlar sintomas e desacelerar o progresso da doença, centrando-se na reposição de dopamina. Há avanços também em outras áreas.
“A estimulação cerebral profunda, semelhante a um marcapasso cerebral, mostra bons resultados, mas é destinada a pacientes selecionados. Quando mal indicada, pode ser prejudicial”, alerta a médica.
A progressão do Parkinson varia por paciente. Alguns permanecem estáveis por anos, enquanto outros enfrentam rápida evolução. “Paciente mais jovens, na faixa dos 50 anos, são mais afetados em sua rotina, enfrentando tremores em situações profissionais”, diz Valadares.
A importância de uma rede de apoio
Além dos medicamentos, a qualidade de vida do paciente com Parkinson depende de acompanhamento multidisciplinar. Segundo Ana Rita, um especialista em apoio é crucial nos cuidados.
“O acompanhamento neurológico é vital, mas o paciente deve também ter um médico fisiatra, que gerencia a reabilitação com fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e psicologia.”
Cada especialização possui papel fundamental no cuidado integral. A fisioterapia auxilia na recuperação da marcha e prevenção de quedas. A fonoaudiologia trabalha com deglutição e fala. A terapia ocupacional ajuda com movimentos dos membros superiores e manutenção da autonomia. A psicologia apoia no impacto emocional e social da doença.
A perda de independência em atividades diárias pode causar forte impacto emocional, sendo comuns a depressão e ansiedade entre os pacientes. “Estima-se que 50% dos pacientes enfrentem depressão e até 20% desenvolvam depressão severa”, afirma o neurocirurgião.
Para familiares e cuidadores, o acompanhamento é igualmente necessário. A evolução da doença altera as demandas de cuidado. “O médico fisiatra orienta sobre a progressão da doença e a necessidade de ajustar expectativas”, conclui Ana Rita.
“Frequentemente, o que mais aflige o paciente não são os tremores ou a rigidez, mas as limitações que afetam sua independência e bem-estar emocional, exigindo tempo e atenção próxima”, salienta Valadares.








