As temperaturas cada vez mais elevadas têm trazido desafios significativos para o ambiente escolar em Vitória. Em 2023, uma pesquisa revelou que, em quase metade das escolas públicas e privadas da capital capixaba, a temperatura dentro das salas de aula era até 3°C maior do que no ambiente externo. Vitória ocupa o quinto lugar nacional entre as capitais com escolas que apresentam temperaturas internas mais altas em relação ao entorno, ficando atrás de Manaus (AM), Macapá (AP), Palmas (TO) e Porto Velho (RO).
O estudo, realizado pelo MapBiomas e Instituto Alana, analisou 155 das 161 escolas municipais e privadas de educação infantil e ensino fundamental registradas pelo Inep. Os resultados mostram que 91% dessas escolas registraram pelo menos 1°C acima da média externa, enquanto 49,7% das instituições apresentaram uma diferença ainda maior, de aproximadamente 3,57°C.
A situação de temperaturas elevadas impacta diretamente o aprendizado dos alunos. Em 2024, por exemplo, a Climatempo registrou a temperatura máxima de 38°C em Vitória. Com base nos dados da pesquisa, isso pode significar que dentro das salas de aula a temperatura poderia atingir até 41°C, intensificando o desconforto e os problemas de saúde vinculados ao calor.
A análise revelou que a ausência de áreas verdes dentro e no entorno das unidades de ensino é um dos principais fatores que contribuem para a elevação das temperaturas. Em nível nacional, cerca de 37,4% das escolas não possuem áreas verdes, índice que aumenta para 43,5% nas instituições de educação infantil, especialmente em bairros periféricos. Essa carência intensifica a vulnerabilidade das escolas às chamadas ilhas de calor, fenômeno urbano causado por asfaltos, concreto excessivo e pouca vegetação.
Além disso, o estudo reforça que as desigualdades já existentes no tecido urbano são reproduzidas no ambiente escolar, prejudicando principalmente crianças que vivem em áreas menos arborizadas. Maria Isabel, especialista que contribuiu com a pesquisa, destacou a importância de identificar escolas mais vulneráveis a mudanças climáticas, como ondas de calor e enchentes, e agir para mitigar esses riscos. Ela também frisou os benefícios do contato com a natureza, como melhora da imunidade, memória, desempenho acadêmico, redução do estresse e maior sociabilidade dos estudantes.
O estudo de MapBiomas e Instituto Alana sugere a criação de mais áreas verdes nas escolas e em seus entornos como uma das medidas prioritárias para enfrentar o problema. Além disso, ampliar o uso de sistemas de climatização, como ar-condicionado, é uma alternativa viável, embora dependa de infraestrutura elétrica adequada.
A Secretaria de Educação de Vitória informou que investe gradualmente em climatização. Segundo a secretária Juliana Rohsner, apenas nove escolas possuíam sistemas de refrigeração em 2021, número que saltou para 40 em quatro anos. Ela ressaltou, contudo, que a instalação de ar-condicionado exige planejamento estruturado. Recentemente, outras cinco ordens de serviço foram emitidas para obras nas unidades, enquanto 12 escolas estão em fase de projeto, com previsão de licitação para 2025.
Em relação às áreas verdes, a Prefeitura de Vitória também se comprometeu a arborizar os espaços escolares. Juliana destacou que, em muitas escolas, espaços concretados estão sendo recuperados para estimular o contato direto dos estudantes com a natureza.
O Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe/ES) informou que as escolas privadas da capital já adotam ventiladores e sistemas de ar-condicionado para garantir o bem-estar de alunos e educadores. Contudo, o sindicato não abordou outras estratégias para mitigar o calor, como a ampliação de áreas com vegetação.
As conclusões do estudo alertam para a urgência de adaptar as instituições de ensino às mudanças climáticas e minimizar os impactos do calor na rotina escolar dos estudantes. Seja por meio de melhorias na infraestrutura elétrica e ventilação ou pela implementação de políticas de arborização, é essencial priorizar investimentos que reduzam a desigualdade e ofereçam ambientes mais saudáveis e propícios ao aprendizado.
