Os mercados ao redor do mundo registraram forte queda após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar na sexta-feira (10) a aplicação de uma tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses, que se somará à alíquota de 30% já em vigor.
A medida tem previsão de entrar em vigor em 1º de novembro e marca o retorno de uma guerra comercial que havia arrefecido desde maio, quando Washington e Pequim reduziram tarifas e demonstraram abertura para negociações.
A seguir, os detalhes da nova escalada de tensão entre os dois países.
O que aconteceu
O anúncio de Trump ocorreu em resposta às restrições impostas pela China à exportação de terras raras, minerais fundamentais para as indústrias de tecnologia e defesa. Em reação ao movimento, o presidente americano cancelou a reunião prevista com Xi Jinping na Coreia do Sul e anunciou a intenção de aplicar novos controles de exportação sobre softwares sensíveis.
A decisão ampliou o clima de incerteza nos mercados: os principais índices acionários dos EUA fecharam em forte baixa: o Dow Jones recuou 1,9%, o S&P 500 caiu 2,7% e o Nasdaq perdeu 3,5%. A emissora CNBC calculou uma perda de US$ 2 trilhões no mercado de ações.
O dólar subiu para R$ 5,50 e as taxas de juros locais avançaram, à medida que investidores buscaram ativos considerados mais seguros, como ouro e prata.
Como chegamos até aqui
A disputa comercial entre Estados Unidos e China perdura desde 2018, quando a administração Trump iniciou uma série de tarifas para pressionar Pequim a reduzir subsídios e abrir seu mercado. Após anos de escalada, houve um entendimento parcial em 2024, com redução de tarifas e retomada de diálogos, mas a situação deteriorou-se novamente neste ano.
O gatilho recente foi a decisão da China de restringir exportações de terras raras. Embora o governo chinês tenha invocado motivos de segurança nacional, em Washington a medida foi vista como retaliação às restrições tecnológicas americanas direcionadas a empresas chinesas de semicondutores e de inteligência artificial, o que agravou a tensão.
O New York Times destacou que a raiz do conflito está na diferença de perspectivas entre as nações: para os EUA, trata-se de preservar o equilíbrio comercial e proteger a indústria doméstica; para a China, as ações americanas são percebidas como parte de um esforço para conter seu progresso tecnológico e sua influência política.
O que dizem os especialistas
O JPMorgan afirmou que a nova rodada de tarifas gerou uma forte correção em ativos de risco e interrompeu as expectativas de uma trégua comercial. O banco também ressaltou o contexto interno dos EUA, marcado por um shutdown parcial e por impasses orçamentários, o que aumenta a incerteza e reduz a capacidade de resposta das autoridades.
O Goldman Sachs avaliou que o episódio rompeu um período de relativa calma nos mercados de juros e que a retomada das preocupações tarifárias pode elevar a volatilidade e prejudicar estratégias baseadas em estabilidade e em diferencial de taxas. A instituição recomendou que investidores considerem posições de proteção no médio prazo, especialmente diante da ausência de dados econômicos oficiais durante a paralisação do governo americano.
O Morgan Stanley descreveu a reação de Trump como um choque súbito após semanas de tranquilidade. Stephen Byrd, da mesa de estratégias temáticas, afirmou que o episódio reforça que a segurança nacional continuará no centro da política econômica americana, impactando decisões sobre tecnologia, comércio e investimentos no ano seguinte.
Por que isso importa?
As novas tarifas aumentam o risco de reversão nas dinâmicas do comércio global e podem afetar cadeias produtivas em vários setores, sobretudo o de tecnologia, que ainda depende de insumos e componentes chineses. Custos adicionais para empresas americanas tendem a pressionar preços ao consumidor e dificultar o controle da inflação nos EUA, enquanto uma retaliação de Pequim pode atingir exportadores agrícolas e industriais dos Estados Unidos.
Para investidores, a lição é que a disputa entre EUA e China permanece como um dos principais fatores de risco para a economia mundial, com efeitos que reverberam também no Brasil.
(Com informações da Reuters e do The New York Times)







