A probabilidade de que pressões salariais elevem a inflação parece limitada na maior parte das economias avançadas, enquanto o custo unitário do trabalho aumentou de modo marcante nas economias emergentes no período pós-pandemia, elevando o risco de desancoragem das expectativas inflacionárias. Assim, em alguns países, a convergência da inflação às metas pode atrasar, deixando os bancos centrais com o desafio de conciliar mercados de trabalho mais frouxos e pressões de preços mais fortes.
Essas observações constam do relatório “Mercados de trabalho em um ponto de inflexão: tendências de enfraquecimento em meio a elevada incerteza”, divulgado pelo BIS, Banco de Compensações Internacionais, que destaca os contrastes entre os mercados de trabalho das economias avançadas e das emergentes.
O documento aponta que, enquanto os mercados de trabalho nas economias emergentes permanecem, em grande parte, estáveis, o desemprego tem aumentado em várias economias avançadas, e indicadores prospectivos sinalizam um enfraquecimento adicional.
Contrastando cenários entre economias
Segundo os autores, fenômenos cíclicos explicam parte dessas mudanças, mas também atuam forças estruturais de longo prazo, incluindo processos de desregulamentação e pressões demográficas: envelhecimento, fluxos migratórios e maior participação de trabalhadores mais velhos.
O relatório do BIS lembra que, após um período prolongado de aperto associado à pandemia de Covid-19, os mercados de trabalho das economias avançadas voltaram a um ponto de equilíbrio e mostram sinais de arrefecimento adicional. Segundo o estudo, as taxas de desemprego subiram em várias jurisdições; a contratação desacelerou, as vagas abertas diminuíram e as medidas usuais de desequilíbrio entre oferta e demanda regressaram aos níveis pré-pandemia.
Embora parte desse movimento represente uma normalização, indicadores prospectivos do mercado de trabalho apontam para enfraquecimento adicional em determinados países.
Fatores cíclicos e estruturais
O estudo destaca que esses desenvolvimentos contrastam com o quadro nas economias emergentes (EMEs), onde as condições laborais permaneceram, em linhas gerais, estáveis, embora com diferenças entre os países.
A pesquisa mostra que, além dos fatores cíclicos, forças estruturais continuam a influenciar os resultados do mercado de trabalho, alimentando tendências de longo prazo e afetando também os desdobramentos de curto prazo.
Foram salientadas três tendências estruturais especialmente relevantes: desregulamentação; alterações na oferta de trabalho, tanto por imigração quanto pela maior participação de trabalhadores mais velhos; e as incertezas associadas a novas tecnologias, sobretudo a inteligência artificial generativa.
Tecnologia, produtividade e emprego
No que diz respeito a esse último ponto, o relatório observa que a IA generativa introduz uma nova dimensão: estimativas apontam ganhos potenciais de produtividade entre 10% e 55% em diversas ocupações. Porém, o efeito sobre o emprego é ambíguo, pois a tecnologia pode tanto complementar funções quanto substituí-las, ao automatizar tarefas rotineiras em atividades administrativas e operacionais.
O texto acrescenta que, embora ainda não se verifiquem perdas generalizadas de empregos, os impactos da IA variam por setor e dependem do nível de digitalização, do investimento em capital de IA e das políticas de mercado de trabalho adotadas em cada país.






