O recuo nas vendas do varejo em julho, o quarto mês consecutivo de retração, com queda de 0,3% divulgada pelo IBGE nesta quinta-feira (11), reforça o quadro de desaceleração da atividade que já vinha sendo antecipado por analistas, com destaque para o recuo em setores mais sensíveis à renda, como supermercados.
O varejo ampliado, que incorpora segmentos conectados ao crédito, avançou 1,3% em relação a junho, mas apresentou contração de 2,5% em comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Rodolfo Margato, economista da XP, avaliou que os ramos mais dependentes das condições de crédito têm registrado arrefecimento diante do cenário de juros elevados e do crescimento do endividamento das famílias.
Ponderou que os segmentos fortemente atrelados ao crescimento da renda mantiveram-se relativamente firmes, beneficiados por um mercado de trabalho ainda sólido e por transferências fiscais elevadas.
Margato estimou que, no conjunto, deve haver um ligeiro crescimento nas vendas do varejo ao longo do segundo semestre, com a demanda doméstica perdendo força, sem, no entanto, uma reversão brusca do quadro.
Variações por segmentos
Ao analisar os números de julho, Claudia Moreno, economista do C6 Bank, ressaltou a queda de 2,9% nas vendas de tecidos, vestuário e calçados e a retração de 0,3% em hipermercados. Por outro lado, o comércio de material de construção registrou alta de 0,4% e o setor de veículos, motocicletas, partes e peças cresceu 1,8%.
A economista afirmou que os dados recentes corroboram a percepção de perda de fôlego do varejo ao longo do ano. Segundo ela, os resultados mais fracos vêm sobretudo de segmentos sensíveis ao crédito, diretamente afetados pela Selic em patamar elevado, como veículos, materiais de construção, móveis e eletrodomésticos.
Na projeção do C6 Bank para esse cenário, as vendas do varejo ampliado devem encerrar 2025 com crescimento próximo de zero, lembrando que, no ano anterior, o setor cresceu 3,7%.
Impacto da renda e do crédito
Para André Valério, economista sênior do Inter, o resultado confirma a tendência de desaceleração do setor, que acumula quatro meses de queda, influenciada sobretudo pelo pior desempenho de supermercados, o grupo de maior peso no índice, em seu quarto mês de recuo.
Valério apontou expectativa de continuidade dessa deterioração nos próximos meses, à medida que o aperto monetário leve à piora das condições de crédito e o mercado de trabalho comece a perder força marginalmente.
Igor Cadilhac, economista do PicPay, avaliou que o ritmo de expansão do comércio deve diminuir, refletindo a retirada de estímulos fiscais e de crédito, além dos efeitos remanescentes da inflação e dos juros elevados.
Apesar desse ambiente mais desafiador, o PicPay projeta que a perda de dinamismo será relativamente moderada, já que o mercado de trabalho aquecido e a massa salarial ainda robusta devem sustentar o consumo das famílias. A previsão de crescimento para o setor em 2025 permanece em 2%.







