O salário mínimo no Brasil, reajustado para R$ 1.518 em 2025, esta longe de atender as necessidades básicas das famílias, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O valor ideal para sustentar uma família de quatro pessoas seria de R$7.067,68, quase cinco vezes maior que o piso atual. Essa discrepância evidencia os desafios enfrentados por milhões de brasileiros para cobrir despesas essenciais, como alimentação, moradia, saúde e educação, em um cenário de inflação e aumento do custo de vida.
O Dieese calcula o salário mínimo ideal com base no custo da cesta básica, que em janeiro de 2025 subiu em 13 das 17 capitais pesquisadas. Em São Paulo, a cesta básica mais cara do país custou R$ 851,82, consumindo 60% do salário mínimo. Em Salvador, o aumento foi de 6,22%, seguido por Belém (4,80%) e Fortaleza (3,96%). Apenas Porto Alegre, Vitória, Campo Grande e Florianópolis registraram reduções nos preços. O levantamento mensal do Dieese revela que, em média, um trabalhador precisou dedicar 107 horas e 38 minutos de trabalho para adquirir os produtos da cesta básica, comprometendo mais da metade de sua renda.
A inflação dos alimentos, impulsionada por fatores como a alta do dólar e a especulação no mercado internacional, é um dos principais responsáveis pelo aumento do custo de vida. Itens como café em pó, tomate e pão francês tiveram aumentos significativos, enquanto produtos como batata, leite integral e arroz apresentaram quedas. Adriana Marcolino, diretora-técnica do Dieese, explica que a inflação acumulada nos últimos anos estabeleceu um novo patamar de preços, reduzindo o poder de compra das famílias. “O trabalhador perdeu poder aquisitivo e aumentou seu custo de vida”, afirmou.
O salário mínimo de R$1.518 impacta diretamente a renda de 59,9 milhões de brasileiros, incluindo aposentados, pensionistas, trabalhadores formais e informais. Segundo o Dieese, o reajuste gerará um incremento de 81,5 bilhões na economia e R$ 43,9 bilhões em arrecadação tributária. No entanto, o valor atual é 78% menor que o salário mínimo ideal, evidenciando a necessidade de políticas públicas que garantam um piso mais justo e adequado às necessidades da população.
A Constituição Federal de 1988 estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para atender às necessidades vitais básicas de uma família, mas essa determinação não tem sido cumprida. O Dieese defende a revisão periódica do salário mínimo, considerando a inflação e o crescimento da produtividade, para garantir um padrão mínimo de dignidade. “Um salário mínimo adequado contribui para a qualidade de vida da população, permitindo que os trabalhadores atendam a suas necessidades básicas”, destacou o Dieese em nota técnica.
A defasagem do salário mínimo em relação ao custo de vida é histórica. Desde o Plano Real, em 1994, o valor nunca atingiu o patamar ideal calculado pelo Dieese. Nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a inflação média dos alimentos foi a mais baixa entre todos os presidentes (5,87%), mas mesmo assim o salário mínimo permaneceu abaixo do necessário. Em 2025, a diferença entre o valor real e o ideal é ainda mais gritante, especialmente em um contexto de alta dos preços dos alimentos e da energia.
Enquanto isso, milhões de brasileiros seguem enfrentando dificuldades para cobrir suas despesas básicas. A defasagem do salário mínimo em relação ao custo de vida é um problema estrutural que exige soluções urgentes. Sem políticas eficazes para conter a inflação e aumentar a renda das famílias, a situação tende a se agravar, ampliando ainda mais a desigualdade social no país. O futuro do salário mínimo ideal no Brasil depende de um compromisso coletivo com a justiça social e a dignidade humana.