A economia brasileira registrou um crescimento de 0,9% no terceiro trimestre de 2024 em comparação ao trimestre anterior, conforme dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça-feira (3). Este resultado, porém, representa uma desaceleração em relação ao segundo trimestre, quando o crescimento foi de 1,4%.
Crescimento Abaixo das Expectativas
Embora o crescimento de 0,9% tenha superado levemente a mediana das previsões do mercado financeiro, que era de 0,8%, os analistas já esperavam uma desaceleração. O intervalo das expectativas variava entre 0,6% e 1,1%. A economista Juliana Trece, do FGV Ibre, ressalta que, apesar da desaceleração, a economia demonstra sinais de força, especialmente em setores como consumo das famílias, investimentos e serviços.
Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, comentou que o crescimento menor deve ser atribuído a um patamar elevado de comparação, uma vez que o PIB atinge um nível recorde desde o início da série do IBGE, em 1996.
Expectativas para 2024 e Impactos na Inflação
Após a divulgação dos dados, economistas ajustaram suas previsões para o crescimento acumulado de 2024. Juliana Trece agora prevê um aumento de 3,5%, em comparação à expectativa anterior de 3,2%. Ela adverte que esse ritmo de crescimento pode pressionar a inflação, intensificando a possibilidade de aumento de juros pelo Banco Central.
As expectativas para o crescimento em 2025 estão em 1,95%, segundo o boletim Focus do Banco Central, com analistas destacando que o crescimento da demanda deve provocar pressões inflacionárias.
Desempenho dos Setores
No âmbito da demanda, o consumo das famílias e os investimentos produtivos demonstraram crescimento significativo, com altas de 1,5% e 2,1%, respectivamente, no terceiro trimestre. Rebeca Palis relaciona esses resultados ao mercado de trabalho aquecido e às transferências sociais do governo, que impulsionam tanto o consumo quanto os investimentos. O consumo governamental também cresceu 0,8%, recuperando-se de uma queda anterior.
No setor externo, o IBGE observou um recuo nas exportações de 0,6% e um aumento de 1% nas importações, sinalizando que o crescimento do PIB é impulsionado principalmente pela demanda interna.
Setores de Serviços e Indústria
Pela produção, o PIB teve um desempenho positivo impulsionado por um crescimento de 0,9% no setor de serviços e de 0,6% na indústria, enquanto a agropecuária apresentou queda de 0,9%. O desempenho do agronegócio foi impactado por condições climáticas adversas, como períodos de seca e enchentes em estados como o Rio Grande do Sul.
No setor de serviços, foi observado destaque para as atividades de informação e comunicação, que cresceram 2,1% no terceiro trimestre. Na indústria, a atividade de transformação cresceu 1,3%, embora ainda esteja 14,7% abaixo do pico histórico registrado em 2008.
Revisão das Projeções Econômicas
O banco Goldman Sachs revisou sua previsão de crescimento do PIB para 2024, de 3,1% para 3,4%. Instituições como Itaú e C6 também ajustaram suas expectativas, indicando um viés de alta. A economista Natália Cotarelli, do Itaú, ressalta que os dados refletem surpresas positivas no desempenho de serviços e investimentos, sugerindo que a economia mantém-se robusta.
Para 2025, as projeções variam, com algumas instituições preverem um crescimento de 1,8%, refletindo uma expectativa de desaceleração diante de fatores como a alta dos juros e a redução do impulso fiscal.
Revisões no PIB de 2023
O IBGE também revisou a taxa de crescimento do PIB de 2023, elevando-a de 2,9% para 3,2%. Essa mudança foi impulsionada pela inclusão de dados do setor de serviços e da agropecuária, o que sugere um panorama econômico mais otimista para o ano corrente, embora também levante preocupações em relação às expectativas inflacionárias.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em resposta a um cenário econômico mais aquecido, decidiu aumentar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual em novembro, estabelecendo a taxa em 11,25% ao ano. Essa decisão visa controlar a inflação, que corre o risco de ultrapassar a meta estabelecida para 2024.