“Olha! Até o Bis está caro”, afirma Luiza Uchoa, 55 anos, para suas amigas do trabalho na Americanas da rua Direita, região central de São Paulo. As três são clientes assíduas da varejista na hora do almoço, mas, nesta terça (17), não estavam satisfeitas com as promoções.
Enquanto investidores da Americanas tentam se recuperar da queda na Bolsa de Valores, consumidores finais de uma das maiores empresas de varejo da América Latina estão indo às lojas em busca de ofertas avassaladoras. Mas eles reclamam que encontram preços até maiores do que o de costume para a companhia.
A cozinheira Vanilde Barros, 55 anos, também refez seu plano. “Vim ver shampoo, mas só o salgadinho está valendo a pena”, conta a consumidora, que aproveitou a folga para as compras e só levou um pacote de 60 g de amendoim salgado, por R$ 1,99.
A reportagem da Folha foi até a unidade da Americanas no centro da capital paulista saber como está o clima entre os consumidores diante a crise da companhia. Apesar das filas sempre com mais de dez pessoas e um entra e sai de consumidores, poucos saíram com compras da loja. E estes, levaram, em média, dois itens, geralmente chocolates.
“Compro de tudo nas Americanas: chocolates, produtos de limpeza, fralda para os meus netos e até eletrodomésticos. Sempre tem preços bons, e nós gostamos de chocolate. Só que estou vendo a caixa de Bis por R$ 6,49, mas se comprar duas na promoção, sai o mesmo preço [cada unidade]. Eles devem ter errado”, observa Luiza.
No caixa, Luiz Carlos Dolonhane, 56, tentava pagar uma agenda 2023 pelo preço promocional anunciado na loja, R$ 14,99, e não os R$ 19,99 debitados do seu cartão. “É um ou outro produto que vale a pena. Não vi muitas ofertas.”
Para Joice Saldanha, 29, que vai à loja sempre na hora do almoço pegar um chocolate, está “tudo igual”. “Não tem nada mais barato. Tem produto até que está mais caro, na verdade”, conta.
Para Cristiane Dias, 47 anos, “está tudo mais caro”. Acostumada a comprar produtos de higiene pessoal na Americanas da rua Direita, a consumidora estava em dúvida se levava um desodorante.
Com mais de 1.800 lojas físicas no país, um dos maiores grupos varejistas está envolvido em um escândalo bilionário desde que seu presidente pediu demissão por ter encontrado “inconsistências” de R$ 20 bilhões no balanço da companhia.
A servidora pública Rosimeire Carvalho, 56 anos, ouviu as notícias sobre a crise contábil da Americanas e decidiu conferir se a loja estava em liquidação. A expectativa, porém, foi frustrada. “São as promoções que sempre fizeram. Não tinha nada de especial. Comprei só uma escovinha de dentes e um chocolate”, conta.
“Falam tanto de privatizar tudo, mas esse [Americanas] é um exemplo de que não é forma do negócio, mas, sim, as pessoas que o administram que conta”, afirma.
Em 2021, a Americanas uniu as operações da plataforma digital e física, dando origem à Americanas S.A. A nova companhia passou a reunir os ativos de Lojas Americanas e B2W, dona da Americanas.com, Shoptime e Submarino. Além disso, a empresa é proprietária da fintech Ame.
Cliente Ame, Dolonhane disse não estar preocupado em perder o saldo que tem na conta. Não tenho muito, mas acho muito difícil a empresa fechar, e eu perder o valor. É [uma marca] muito grande”, diz.