Na última semana, enquanto buscava algo para assistir na televisão, acabei parando numa novela do horário nobre. Fui surpreendida por uma cena impactante: uma jovem, influenciadora digital, sai de um terreno baldio visivelmente abalada, com roupas rasgadas e o olhar perdido. Aos poucos, entendi que ela havia acabado de sofrer um estupro por um stalker que a perseguia, mesmo após medidas protetivas já terem sido solicitadas.
O que mais me tocou foi o retrato do pós-estupro. Vi a personagem cambaleando até casa, buscando se limpar desesperadamente do que tinha acabado de vivenciar, e sendo acolhida pela melhor amiga, que a encorajou a ir à delegacia registrar a ocorrência. Na delegacia, ela foi atendida por mulheres preparadas para oferecer apoio, colher relatos e buscar vestígios que pudessem ajudar na investigação. Ainda assim, percebi o quanto é difícil para muitas mulheres ter esse acolhimento — sabemos que a realidade nem sempre é assim, infelizmente.
Assistir àquelas cenas me gerou um questionamento: por que mostrar algo tão forte em um horário em que tantas crianças, adolescentes e mulheres podem estar assistindo? Logo compreendi a importância de trazer esse assunto para o centro do debate, de informar e provocar reflexão. Quantas meninas e mulheres, vendo aquela história, podem aprender sobre a importância de manter vestígios, de registrar ocorrência e, principalmente, de buscar apoio e rede de proteção?
Uma reportagem que recebi depois reforçou esse incômodo: é assustador como a mídia, ao noticiar casos reais, ainda insiste em culpar as vítimas, mencionando onde estavam, como estavam vestidas ou se tinham consumido álcool. Faltam foco e cobrança ao agressor, e sobra julgamento para quem já sofreu uma agressão tão devastadora. Como mulher, especialmente mulher negra, penso muito sobre empoderamento e igualdade; repudio toda forma de responsabilização da vítima e reforço o valor da inclusão, do acolhimento e da busca por equidade de gênero.
Violência contra a mulher e a cobertura da imprensa
Também me chamou atenção o fato de, na novela, a vítima ser namorada de um policial militar. Isso me levou a refletir sobre a falsa sensação de segurança que tantas de nós carregam. Ter um companheiro, uma família estruturada, estar cercada de apoio — nada disso é garantia de proteção contra a violência. O que pode nos proteger é a conscientização, o diálogo franco sobre comportamentos machistas, o combate à objetificação do nosso corpo e a educação para o respeito.
Eu mesma já vivi situações de importunação sexual, como tantas mulheres, e sei que a luta é longa. Mas acredito profundamente na força da sororidade, da reflexão coletiva e da coragem para ocupar todos os espaços: desde a tela da TV até a sala de aula, passando por conversas informais, matérias jornalísticas e posts nas redes sociais.
Quando falamos sobre empoderamento, inclusão e mulheres negras, falamos também de fortalecer nossas vozes, de ampliar nosso campo de ação, de acolher e resistir. Espero que cenas como as que vi sirvam de alerta, de aprendizado e, acima de tudo, inspirem empatia e apoio entre mulheres, independentemente da idade — seja para aquela mulher aos 50 anos, para a adolescente ou para a menina que assiste à novela na companhia da mãe.
Que continuemos juntas, acolhendo umas às outras, lutando por igualdade e por uma sociedade mais justa e segura para todas nós.
Se você quiser se informar mais, compartilho abaixo algumas reportagens que abordam o tema da violência contra mulheres e a importância do acolhimento e da resistência. Porque toda informação, toda rede e toda atitude de empoderamento faz diferença.
Vamos juntas.









