O bilhete de Giovanna deixou Gabriela confusa, fazendo-a ignorar o resto das apresentações. Algo em sua intuição dizia que seria importante e, como sempre, sua intuição não falhava. Mas também lhe dizia que podia confiar em Giovanna. Apesar de ser um enigma para a maioria dos colegas, Gabriela sabia que ela tinha boas intenções, especialmente por ter sido escolhida pela própria Quarta Irmã.
Enquanto Gabriela mergulhava em seus pensamentos, Helena foi à frente, deixando todos encantados com sua beleza e doçura. Com cerca de 1,65 m, longos cabelos pretos adornados por uma tiara dourada com doze estrelas e olhos castanho-claros, Helena tinha uma fofura que rivalizaria até a mais famosa idol japonesa. Seu pai, Takashi Shinkai, era um empresário do ramo têxtil, com contratos em marcas de luxo, enquanto sua mãe, Misaki Ozu Lima, era uma estilista renomada, dona de uma grife cujas peças vestiam celebridades internacionais – inclusive um vestido usado pela cantora Jennie no último Grammy.
— Olá, pessoal! Meu nome é Helena Lima Shinkai, tenho 15 anos e sou daqui de Vitória. Meu pai é japonês, e minha mãe é meio brasileira, meio japonesa, então sou uma mistura dos dois — disse Helena, com uma alegria contagiante. Ela tinha o coração acolhedor de uma mãe, fazendo todos se sentirem bem-vindos ao seu redor. Além disso, boa parte da sala shippava ela com Bernardo, o que fazia certo sentido, já que ambos eram bonitos e gentis: ela, com a delicadeza maternal, ele, com a postura protetora de um pai. Mas, na opinião de Gabriela, essa forçação de barra ignorava o fato óbvio de que os dois eram apenas amigos e estavam claramente desconfortáveis com a pressão — Sou de Libra e tenho forte ligação com Vênus, já que nasci no dia 13 de outubro. Adoro plantas, tenho várias no meu novo “quarto” e fiquei com o coração partido por deixar algumas na casa antiga. Também ajudo minha mãe no ateliê, servindo de modelo, adoro criar joias e bichinhos de pelúcia. Não tenho animais de estimação porque sou mais “mãe de plantas”, mas meu irmão mais novo tem um coelho chamado Koda.
Se Gabriela fosse descrever Helena em poucas palavras, seriam: bela, maternal, gentil, floral e marshmallow (por ser doce, macia e perfeita para alegrar qualquer dia). Mas nada disso a tornava frágil. Pelo contrário: era prova de um espírito forte, inabalável mesmo num mundo caótico, mostrando que ainda existia bondade nas pessoas.
Helena era forte. E quem discordasse estaria terrivelmente enganado.
Após sua apresentação, Julieta foi à frente.
Representante feminina da turma, Julieta era uma das alunas mais inteligentes e gentis. Com cerca de 1,76 m, era também uma das mais altas. Negra, de cabelos loiros cacheados que combinavam perfeitamente com seu estilo, ela ainda tinha outra particularidade: era uma mulher trans que, desde cedo, recebeu apoio dos pais e das irmãs – algo que dava a Gabriela um pouco de esperança no mundo. As meninas da sala também a apoiavam, embora nem tudo fossem flores: Lucas, o babaca, vivia fazendo comentários transfóbicos. Mas nenhum deles abalava a autoestima de Julieta, que tinha uma força mental admirável e sempre ajudava as amigas, especialmente Ana Clara e Helena, suas amigas mais próximas.
“A Julieta é tão incrível e linda… Queria ter 1% da sua confiança para ser feliz”, pensou Gabriela, distraindo-se por um instante ao ver a representante à frente da sala.
— Bom, como vocês sabem, meu nome é Julieta Costa Gomes. Tenho 15 anos, sou de Leão e nasci no dia 8 de agosto de 2009. Adoro patinar e bordar com minha avó. Gosto de pensar que sou corajosa – minha mãe sempre diz que, desde bebê, eu nunca tive medo de nada. Ah, e minhas cores favoritas são amarelo e rosa.
Quase todos sorriram ao ouvi-la, mas Laura, sentada perto de Lucas, viu-o revirar os olhos. Foi o suficiente para ela quase levantar e dar um soco na cara dele, mas Gabriela a segurou. Aquele não era o lugar. Havia tempo para ajustar contas no intervalo.