A ideia deste artigo surgiu quando me deparei com um conteúdo da Flávia Albuquerque, psicóloga, que tem um perfil no instagram com o nome Despatologiza. A Flávia fala muito sobre politizar o sofrimento e despatologizar a vida, mas esse conteúdo ficou comigo por um bom tempo: Aprecie sua insuficiência. Insuficiência como algo que não é ruim, no sentido de que não somos invencíveis, que precisamos saber tudo ou que precisamos dominar algo assim que aprendemos, que “sozinho a gente não se basta coisa alguma”. É no sentido da coletividade que fez todo sentido para mim. Afinal, se temos um problema, o que é o normal de se pensar? Que se o problema é seu, você que se vire para achar uma solução ou melhorar se está se sentindo mal. Nossas dores, doenças e conflitos são revestidos de individualidade. É cada um por si. Assim fomos moldados a pensar e agir desde antes dos nossos avós nascerem, mas isso não é natural!
A nossa natureza humana não é egoísta, é uma reação de vivermos numa estrutura capitalista, em que as oportunidades são diferentes e desiguais. Se você não está no topo, está embaixo junto com toda a classe trabalhadora. Aqui recomendo um corte do Ian Neves – História Pública sobre uma fala dele em um podcast sobre a natureza humana, deixo o link AQUI.
Voltando para o assunto da insuficiência, sem perder de vista a importância da coletividade. O que me fez voltar ao tema foi outro conteúdo, também de uma psicóloga, a Amanda Estima (amandaestima.psi). O conteúdo começa com a frase: O mito contemporâneo da “melhor versão de si mesmo”. Na postagem a Amanda fala sobre como “fomos ensinadas a nos superar o tempo inteiro”, que essa armadilha de “liberdade” é o que nos aprisiona em uma constante de alta performance, ou se preferir, de alta produtividade. E para fundamentar meus argumentos finais uso as aspas da Amanda: “O mito da ‘melhor versão’ nos exaure do que é real: a vida como potência imperfeita, não como produto finalizado. […] Estar bem hoje virou ato de resistência. Permitir-se ser, sem precisar se superar o tempo inteiro, é talvez a maior revolução íntima que podemos realizar”.
Já tem pelo menos um ano que faço terapia, e acompanhar conteúdos de psicólogas e psicólogos me ajuda em certo nível a refletir sobre minhas decisões e caminhos novos a trilhar, sem perder de vista o que já passou e com quem caminhar. E quando não estamos bem, ouvir que temos com quem contar, seja família e amigos, além de buscar ajuda de um profissional, é fundamental. Não somos máquinas, não precisamos ser resistentes o tempo todo e tudo suportar. Se ninguém faz nada sozinho, a busca por autoconhecimento também não é um caminho para percorrer em solidão.
Em contrapartida a essa alta produtividade que temos que performar diariamente, sugiro apreciarmos as nossas piores versões. Até porque se a “melhor versão de si” é um mito, apreciar nossa pior versão é na verdade se auto valorizar, se amar, se cuidar, sem se perder nas cobranças externas ou internas. Aceitar que não somos invencíveis, somos insuficientes e que isso é bom, mostra que somos humanos. Já se apreciou hoje?