Nunca se defina por completo ou bata o martelo sobre o que você é. Nunca somos, sempre estamos. Você pode ser um oceano de possibilidades, então por que se contentar com uma gota?
É curioso essa obsessão coletiva por “ser alguma coisa” e nada além disso. Nós, humanos, somos multifacetados, contraditórios e cheios de nuances. Temos o poder de transitar entre as diversas definições sem perder nossa essência ou “sair do personagem”.
Lembro que, na minha adolescência, eu não me permitia ouvir outros gêneros musicais além daquele que eu já havia decretado como “o meu favorito”. Era quase uma regra: o que eu gostava, era quem eu era. Demorei anos para abrir espaço e ouvir outras músicas sem me sentir uma farsa. Patético.
Essa caixinha na qual nos enfiamos nos impede de viver, de perceber coisas diferentes e, principalmente, de abrir a mente para o desconhecido. Ser “muita coisa” não é sinal de indecisão, mas de riqueza, de variedade, de autenticidade.
Como bem cita Ste Armelim em seu texto “Campo a mim”: “Porque não adianta, o desejo de toda alma é expandir para os espaços que já existem. […] Portanto, ser fiel a si não diz respeito apenas à busca pela completude – ela, por si só, é burra – mas pela forma ideal de cumprir esse caminho não linear; o esforço aplicado ao momento presente.” Ou seja, não queira se limitar, queira se expandir. A busca por um “eu inteiro”, essa necessidade de parecer consistente o tempo todo, é uma armadilha.
Veja bem, eu sou jornalista, mas o meu jeito de exercer a profissão pode ser plural. Hoje posso ser uma jornalista séria, amanhã engraçada, e depois posso até mudar de área. São camadas e camadas, todas moldáveis, todas verdadeiras.
Entendo que o mundo nos força a engessar quem somos. É cansativo. Mas é libertador perceber que você pode se definir de diversas formas ao longo do caminho. Tentar definir todas as nossas versões ao mesmo tempo dá trabalho demais, está tudo bem só curtir uma por vez.
Somos uma história aberta, cheia de interrogações, pontos e vírgulas, parênteses e capítulos improváveis.