Após o feriado de Carnaval, inicia-se um período de profunda reflexão sobre nossas atitudes em relação a nós mesmos e aos outros. Para aqueles que têm fé e seguem tradições cristãs, especialmente o catolicismo, este é um momento de introspecção que culmina na celebração da Páscoa, simbolizando o renascimento. Após dias de análise pessoal e expiação dos pecados, a ressurreição de Cristo convida à compreensão de que a renovação deve ser uma constante na vida daqueles que desejam sair deste mundo melhores do que chegaram.
Há um tempo para tudo: viver, chorar, sorrir, dormir e, inevitavelmente, morrer. A reflexão recai sobre como viver hoje e sob quais valores se guiar. Seguir o fluxo da vida sem questionar nos transforma em espectadores e atores de um roteiro que desconhecemos. É preciso ser roteirista da própria existência.
Atuando na Secretaria de Estado de Turismo, exercendo a função de promover o turismo e capacitar os envolvidos, vivenciei o impacto do Carnaval em nossa sociedade. O período, marcado pela alegria e prazeres, leva muitos à introspecção no dia seguinte, como é tradicionalmente representado pela Quarta-feira de Cinzas. Este é o momento de rever ganhos e perdas, sejam emocionais, físicos ou financeiros, após os excessos e permissões da festividade.
Entretanto, vale uma análise mais profunda dos costumes modernos. A valorização excessiva do corpo e da “alegria eterna” promove um ideal inatingível de felicidade e beleza, muitas vezes conflitante com valores pessoais e coletivos. Embora o Carnaval movimente a economia de estados como o Espírito Santo e fortaleça o turismo, é preciso ponderar sobre os limites do que se apresenta nas ruas, blocos e passarelas.
A exposição física incessante e a obsessão pela perfeição colocam em evidência uma sociedade cada vez mais presa à ditadura da beleza e do não envelhecimento. Os recentes eventos que envolveram a morte precoce e chocante de uma jovem madrinha de bateria, no auge de sua vida e influência, servem como um alerta. A perda de alguém tão vibrante desafia-nos a revisitar nossa relação com o corpo, a mente e os valores que sustentam a vida.
A corrida por dinheiro, corpos esculturais e prazeres instantâneos cobra um preço alto. Muitas pessoas abandonam uma vida equilibrada — dividida entre trabalho, lazer, saúde e família — para atender aos padrões sociais que demandam mais do que é humanamente sustentável. Precisamos repensar essas escolhas.
Em um momento semelhante no passado, encontrei equilíbrio ao buscar autoconhecimento. A partir de uma terapia que me proporcionou clareza, percebi que não posso me comparar com os outros. Nosso ritmo, valores e sonhos são únicos. As redes sociais, apesar de promoverem vidas perfeitas, muitas vezes mascaram sofrimentos e decepções. É crucial olhar para dentro, dedicar um tempo à introspecção.
A paz, tão almejada, não depende de corpos perfeitos ou vidas idealizadas. Ela surge do autoaceitar-se — com todas as falhas e virtudes — e da construção de um ser pleno, de dentro para fora: corpo, alma e espírito.
Que possamos aprender a prática da aceitação mútua, assim como expressa a saudação oriental “Namastê,” cuja tradução simboliza a reverência à sabedoria e experiência do outro. Que este período pós-Carnaval seja uma chance de renascimento, de gratidão e de redefinição dos valores que norteiam nossas vidas
Belo e reflexivo texto . Parabéns, Flávia ! Deus permaneça derramando bençãos sobre sua vida. Abraço .