Mães têm o costume de comer os restos da comida das crianças. Isso é fato. Qual o fundamento? É gostoso? É para aproveitar? Acham que a boca está limpinha e que não devem jogar no lixo? Geralmente sim. Não estou dizendo que seja sujo ou que não devam aproveitar de alguma forma. Minha proposta é fazer uma análise do contexto do título.
O alimento é aquilo que sustenta nosso corpo. Seja líquido, pastoso ou sólido, o que ingerimos é responsável por nos proporcionar uma vida de melhor ou pior qualidade. Devemos selecionar alimentos que nos forneçam os nutrientes necessários para que não acumulemos toxinas, elementos inflamatórios e possamos consumir as vitaminas e minerais indispensáveis ao equilíbrio do nosso corpo.
As necessidades nutricionais de um bebê são diferentes das de um adulto. A temperatura e a textura dos alimentos também não são as mesmas. Mas o principal, ao meu ver, é a ação psicológica envolvida em consumir o que sobra da família. Não tem um bom paladar, está frio e não era para você. Então, por que consumir?
Em lares onde a sobrevivência nutricional da mãe ou de outros familiares está em risco, essa atitude seria justificável. Mas não é o caso da maioria das mães que bebem o restinho da mamadeira contendo leite com engrossantes e açúcar. Outra situação: imagine que você está comendo algo que não foi preparado para você e, assim, se contenta com o que sobra. Esse argumento é o que mais me preocupa. Pense no contexto dessa frase: “Eu me contento com o que sobra.”
Essa atitude reflete em todas as outras esferas da vida, onde a mãe é a referência: o que sobra do tempo… ela vai descansar. O que sobra do tempo… ela vai arrumar as suas coisas. O que sobra do tempo… ela vai cuidar de si. E assim por diante. Esses costumes, no começo de um casamento ou quando os filhos nascem, podem até ser vistos como uma estratégia temporária: “Ah, mas, neste momento, minha família precisa de mim.” Claro que bebês demandam muito mais trabalho. Mas é preciso lembrar que as mães muitas vezes saem de uma cirurgia com o bebê no colo. Não importa se foi parto normal ou cesariana.
No caso do parto normal, há a episiotomia, uma incisão feita na região vaginal para ajudar o bebê a nascer, que possui de 3 a 5 cm e pode dificultar até pequenas ações como sentar e atender às necessidades fisiológicas. Além disso, há a perda de sangue que pode deixar a mulher fraca, sem contar o impacto emocional da experiência. Eu, por exemplo, tive três partos normais, mas, na primeira gestação, precisei tomar injeções de ferro (como Ilobam) e seguir uma alimentação reforçada (Sustagen) por 30 dias. Felizmente, contei com a ajuda da minha mãe e de outros familiares.
O que precisa mudar? Deve haver um cuidado especial com essa mulher, ainda fragilizada, que chega do hospital. É necessária a volta do antigo tratamento chamado **resguardo**, um período de 40 dias em que os cuidados com a mãe eram responsabilidade de seus companheiros e familiares. Essa mãe precisa de um olhar diferenciado. Nesse primeiro momento, é fundamental que as famílias ou amigos proporcionem apoio, seja recebendo a mãe em casa ou indo até sua casa para ajudar no cuidado do bebê e na recuperação.
Felizmente, nos primeiros dias, o recém-nascido, com toda a perfeição de Deus, recebe as primeiras mamadas e dorme bastante. Entretanto, para algumas crianças, as cólicas podem começar por volta de 15 dias e se estender até os 3 meses. E, durante esse período, haja colo e noites de sono perdidas.
O que me incomoda profundamente é ver mulheres disputarem entre si sobre quem é mais forte, quem não precisa de ajuda e quem faz mais. Não se trata de dizer que não conseguem. Claro que conseguem! Mas as mulheres precisam reconhecer o direito de serem cuidadas nesse período. É importante chamar a atenção para as suas necessidades, aprender a se impor, exigir apoio e também ser priorizadas. Essa postura está diretamente ligada ao amor próprio.
Você é essencial para constituir essa família e precisa cuidar de si mesma para continuar bem. Minha observação sobre as mulheres e sua importância na sociedade é muito maior do que geralmente se reconhece. Mas é imprescindível termos essa consciência. As mulheres precisam aprender a cuidar e também a serem cuidadas, compartilhando essa informação com seus companheiros e ensinando seus filhos a repassarem esse conhecimento adiante.
Lembrem-se: somos as mães de 100% da população. Ou seja, todas as crianças passam pelas nossas mãos. Recentemente, foi aprovada uma lei que reconhece a atividade de cuidar como um trabalho não remunerado, realizado em 75% dos casos por mulheres, segundo dados da ONU. Duas observações merecem destaque: cuidar está para a mulher assim como proteger está para o homem. Esse papel é instintivo desde a pré-história, mas precisa ser dividido com a família.
Da mesma forma que as mulheres têm contribuído cada vez mais no sustento do lar – 42% delas são provedoras da casa, segundo o IBGE de 2020 –, é injusto que elas ainda deixem de se qualificar ou cuidar de si próprias para dedicar mais anos de suas vidas aos outros. Essa realidade precisa ser repensada. Afinal, viemos ao mundo para fazer boas escolhas e aprender a viver melhor.
Outro ponto relevante: quem paga por esse trabalho? Todo trabalho deveria ser remunerado. Imagine se as mulheres, de forma coletiva, passassem a cobrar por esse serviço ou se recusassem a realizá-lo? Teriam total razão. Nossa Constituição assegura o cuidado como um direito de todos durante a vida. Portanto, se a família não divide essa responsabilidade e não pode pagar por um cuidador, o governo deveria assumir esse papel.
Enfim, mulheres, não aceitem as sobras. Somos importantes demais para ficarmos com aquilo que sobra.
da próxima vez que vir uma pessoa revirando o lixo em busca de comida, lembre-se de que o seu roquefort não é muito melhor que a laranja passada do morador de rua. Todos, à sua maneira, estão escolhendo o que podem comer. “É preciso olhar essas pessoas na rua com mais dignidade”,
Enfim, mulheres, não aceitem as sobras. Somos importantes demais para ficarmos com aquilo que sobra.Concordo claramente.
Constituição assegura o cuidado como um direito de todos durante a vida. Portanto, se a família não divide essa responsabilidade e não pode pagar por um cuidador, o governo deveria assumir esse papel.
Todas estão nessa expectativa.