Os Cartórios de Registro Civil do Brasil indicam que no primeiro semestre do ano de 2022 mais de 100 mil crianças foram registradas sem o nome do pai, número que representa cerca de 6,5% do total de crianças. É uma quantidade significativa já que o percentual de crianças sem o nome dos pais em seus registros de nascimento no ano de 2022 é maior que os anos anteriores (2021 e 2020).
O primeiro semestre do ano de 2020, por exemplo, registrou em média 80 mil crianças apenas com o nome da mãe em sua certidão de nascimento.
Essas informações apontam que é relevante falar sobre a maternidade solo, levando em consideração que algumas crianças possuem reconhecimento de paternidade e ainda assim convivem pouco ou não convivem com o pai.
Mãe Solteira ou Mãe Solo?
Até alguns anos atrás utilizava-se o termo “mãe solteira” para se referir as mulheres que são mães e assumem e de forma exclusiva as responsabilidades pela criação do filho, assumem tanto financeiramente como afetivamente.
É muito importante que se desvincule a maternidade do estado civil, assim utilizamos o termo “mãe solo” para indicar uma forma de parentalidade, independente do estado civil da mulher.
Contextualizando tal condição da maternidade, a palavra solo, vem da palavra solidão. Mas a solidão da mãe nesse caso não vem do estado civil, é uma solidão que impõe toda a responsabilidade pela criação de um indivíduo, isso torna a maternidade ainda mais cansativa e coloca uma sobrecarga física e emocional absurda na mulher que é mãe.
O Pai e os Filhos
Muito se fala sobre vinculação emocional entre mãe e bebê, principalmente na primeira infância. Mas qual o papel da presença do pai na primeira infância? Um pai emocionalmente envolvido com o bebê é a primeira referência que o bebê tem de mundo fora do núcleo mãe-bebê.

Na segunda infância (entre os 6 e 11 anos) a criança se torna mais sociável e nessa fase, geralmente aumenta o vínculo com o pai. Da mesma forma que é um benefício para criança um vínculo afetivo e saudável com a mãe, essa relação entre o pai e a criança também é relevante.
Vivemos em uma sociedade que por muito tempo foi doutrinada com a ideia de que ao pai cabia o papel único e exclusivo de proporcionar sustentação financeira a família, mesmo sendo fruto dessa cultura que demarca exatamente quais eram as funções maternas e paternas, ainda assim inúmeras famílias estão em um contexto onde as mães são as únicas financeiramente responsáveis por seus filhos. Sem falar no abandono afetivo devido a falta ou rompimento de vínculos entre pais e filhos.
Saúde Mental e Maternidade Solitária
A sociedade coloca um peso muito grande da mãe com expectativas do que se espera da maternidade. A mãe que opta por ficar em casa recebe críticas porque atualmente é quase imposto que a mulher precisa ser produtiva e independente financeiramente. Ao mesmo tempo que uma mulher que após a maternidade continua no mesmo ritmo de trabalho também é criticada. E a mãe solo não tem nem a opção de escolha, ela precisa manter o trabalho já que, em algumas situações o dinheiro da mulher é a principal fonte de renda da família.
Levando em conta os aspectos psicossociais envolvidos na maternidade, quando se refere a maternidade solitária, seja por motivo de divórcio, viuvez, adoção, escolha ou abandono, as mães solo se desdobram para conciliar trabalho, educação, cuidados com as crianças até a fase adulta, responsabilidades financeiras e demais aspectos de sua vida social, gerando uma sobrecarga física e emocional, o que muitas vezes afeta sua saúde mental.