Problemas como doenças resultantes da exposição ao mercúrio, assédios, estupros, tentativas de assassinato e desaparecimentos são parte da realidade enfrentada por trabalhadores cooptados para o garimpo ilegal na região amazônica. Esse cenário foi revelado em um estudo realizado pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil) e pelo Instituto Conviva.

Especialistas das áreas de sociologia, comunicação e antropologia ouviram 389 pessoas em cidades como Manaus, Altamira, Porto Velho e Boa Vista, entre 2022 e 2024. Essas localidades foram escolhidas devido à alta concentração de população na Amazônia. As entrevistas focaram em indivíduos que trabalharam no garimpo ou que tinham familiares envolvidos.
Doenças e Expectativa de Vida
No ano de 2024, as doenças mais comuns entre os garimpeiros incluíam gota, malária, tuberculose, bronquite, pneumonia e reumatismo. A expectativa de vida identificada foi de 55 anos, significativamente abaixo da média nacional de 76,4 anos em 2023. As principais causas de morte foram afogamento, soterramento e ataques de animais.
O estudo destaca que apesar de todas as formas de mineração serem prejudiciais, o garimpo ilegal é ainda mais devastador devido à sua conexão com o crime organizado.
Histórias de Garimpo e Abusos
O relato de Adriano (nome fictício), de 66 anos, descreve a trajetória de um homem que desde muito jovem foi absorvido pelo garimpo, enfrentando uma realidade dura e sem esperança. Valéria, de 32 anos, compartilha sua experiência como mergulhadora em garimpos na Terra Yanomami, onde enfrentou o risco constante de assédios, tentativas de estupro e ameaças à vida.
“No garimpo, aprendi a não esperar nada da vida. É um lugar onde corremos de um canto a outro, sem paradeiro,” relata Adriano.
Impacto sobre Mulheres
O efeito devastador do garimpo ilegal sobre as mulheres é um dos pontos principais do estudo, conforme explica Márcia Oliveira, doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia. Ela destaca o tráfico de mulheres e meninas em condições subumanas e de exploração, frequentemente enfrentando violência.
“Enfrentam muito abuso, a ponto de naturalizarem a violência, devido à forma como os garimpos operam,” expõe Márcia Oliveira.
Desaparecimentos
Outra história é a de Rosa, que há 18 anos busca por seu filho desaparecido em um garimpo, enfrentando o desespero e a falta de respostas sobre o destino dele.
“É terra de ninguém. O que acontece lá é resolvido lá. Não pude enterrar meu filho e esse direito me foi tirado,” desabafa Rosa.








