sábado, 2 de novembro de 2024

Nelita, entre o 50 melhores, traz alma italiana e feminina

O ranking Latin America’s 50 Best Restaurants, divulgado no dia 15 de novembro de 2022 em Yucatán, no México, foi de festa para os brasileiros, especialmente para os paulistanos.

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Entre os dez restaurantes que entraram para a lista dos 50 melhores do continente, havia três novatos, todos eles de São Paulo – Metzi, em 27º lugar, Charco, em 35º, e Nelita, em 39º.

Aos 33 anos, a chef e sócia do Nelita, Tássia Magalhães, parecia a mais surpresa de todos na plateia. “Quando soube que receberia o prêmio, nem acreditei, porque tinha inaugurado o restaurante havia pouco mais de um ano.”

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Tássia já deveria ter se acostumado –tudo na vida dessa paulista de Guaratinguetá aconteceu assim, rápido demais.

Aos 19 anos, diploma do Senac fresquinho embaixo do braço, ela conseguiu o primeiro estágio no extinto Pomodori, casa de cozinha italiana onde Jefferson Rueda despontava como chef-revelação.

Saiu de lá 10 anos depois como única proprietária da casa, com uma coleção de prêmios na estante e o nome na lista Under 30, da Forbes.

“Quando me ofereceram sociedade, eu não tinha um tostão no bolso. Como o restaurante estava cheio de dívidas, me comprometi a assumi-las se tivesse controle total. Foi assim que comprei o Pomodori”, ela conta.

Entre 2018 e 2021, depois de se desligar da casa, Tássia inaugurou novos negócios bem diferentes. O primeiro foi o Riso.e.Ria, especializado em arrozes, inspirado nas receitas dos mexidões que a mãe improvisava para os jantares da família. Em seguida veio a Uno Masseria, que ocupava a mesma cozinha e vendia massas apenas no delivery.

Sua cartada mais certeira, no entanto, foi a criação do Nelita, de cozinha autoral, aberto em maio de 2021 na Ferreira de Araújo, uma das ruas mais gastronômicas de Pinheiros.

Com 44 lugares, contando bar e balcão, a casa tem alma feminina e só mulheres na cozinha – homens, apenas na equipe de salão, comandada pelo marido e sócio Daniel Steinle. O nome é homenagem à mãe de Tássia, Vani Helena.

“Descobri que Nelita é um apelido carinhoso para Helena, em italiano. Tinha acabado de perder meu pai e quis homenagear minha mãe enquanto ela ainda está aqui”, justifica.

O trabalho primoroso com as massas, herança trazida do Pomodori, continua sendo uma das suas marcas registradas. Mas não se deve esperar dela uma cozinha italiana clássica.

O menu, que Tássia renova duas vezes por ano ao sabor das estações, viaja por onde ela bem entende. Vai do conforto proporcionado pelo caramelle, massa servida sob creme aveludado de abóbora e ricota de búfala, à potência orientalizada do foie gras com maçã verde e matchá.

A mescla ousada de ingredientes é uma constante em suas criações. Sobre os aspargos confitados com beurre blanc, emulsão à base de manteiga, a untuosidade do lardo ganha a companhia pungente da botarga.

Janeiro é o último mês para provar tais pratos – a partir de fevereiro, Tássia promete renovação total. Alerta de spoiler: um dos novos pratos será vieira/guanciale/beurre blanc/mel de saiqui.

Já o menu-degustação, onde a chef se arrisca ainda mais, muda só uma vez por ano, sempre em maio, no mês de aniversário da casa. A inspiração vem de múltiplas fontes, de livros a louças e outros objetos que Tássia registra por aí.

“Amo moda e arte e tiro ideias de vários universos. Um porta-joias pode virar uma louça e uma receita. Mas o visual não é o mais importante, o que tem sido comum nesses tempos de redes sociais. Não abro mão do sabor.”

A sequência atualmente em cartaz, batizada de Tempos Memoráveis, foi desenvolvida a muitas mãos, a partir das histórias de vida de cada uma das cozinheiras do time de Tássia.

Seu prato preferido, ela confessa, é o ravioli de couve com angu, que chega à mesa em uma peça de madeira que lembra um minifogão estilizado.

“A Michele, minha chefe de produção, contou que tinha raiva de um fogão a lenha que a mãe construiu e não teve tempo de usar. Assim nasceu o prato, que é uma explosão de sabores.”

O ano de 2023 promete ser intenso. Tássia evita cravar uma data, mas promete reabrir o Riso.e.Ria e a Uno Masseria, desta vez em pontos separados e em formatos mais ambiciosos, assim que encontrar os pontos ideais.

Enquanto isso, o Nelita vai bem, obrigado. Dezembro foi de casa cheia e muitos estrangeiros na lista de reserva, atraídos pela premiação internacional – fechado para recesso, o restaurante reabre no dia 10 de janeiro.

Estar no 50 Best faz diferença para o faturamento, mas Tássia garante que é só. “Acho o prêmio mais importante ainda para a equipe que trabalha comigo. Não posso perder o foco e virar refém do bichinho do ego.”

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