Um levantamento divulgado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) nesta terça-feira (22) revela um preocupante cenário de violência contra médicos no Brasil. De acordo com os dados, um médico é vítima de agressões a cada três horas enquanto exerce sua profissão em unidades de saúde públicas ou privadas no país. A pesquisa foi baseada em boletins de ocorrência registrados entre 2013 e 2024, em todas as delegacias de polícia civil do Brasil.
Atualmente, a média nacional é de nove casos de violência por dia em ambientes de trabalho médicos, apontou o CFM. “Os dados mostram que a situação está fora de controle, com o número de denúncias aumentando ano após ano. O recorde foi alcançado em 2023, mas o panorama completo de 2024 será conhecido apenas no próximo ano”, afirmou o órgão em nota.
O estudo contabilizou 38 mil boletins de ocorrência, envolvendo médicos como vítimas de ameaça, injúria, desacato, lesão corporal e difamação em hospitais, consultórios, clínicas, prontos-socorros e laboratórios. Desse total, 47% dos registros são relacionados a mulheres. O CFM informou ainda que há registros de mortes suspeitas de médicos ocorridas dentro de estabelecimentos de saúde.
Em 2013, foram registrados pouco mais de 2,7 mil casos de violência contra médicos no Brasil. Já em 2023, esse número saltou para 3,9 mil, representando o maior volume da série histórica. “Isso significa que, no ano passado, uma média de 11 boletins de ocorrência por dia foram registrados em razão de episódios de violência contra médicos em seus locais de trabalho”, destacou o CFM.
A pesquisa também revelou que 66% dos casos acontecem em municípios do interior. Os principais agressores são pacientes, familiares de pacientes e desconhecidos, embora também existam relatos de agressões cometidas por colegas de trabalho, como enfermeiros, técnicos e outros profissionais de saúde.
São Paulo, que concentra 26% dos médicos do Brasil, também lidera em casos de violência, com quase metade dos 38 mil boletins contabilizados no país. A maioria das vítimas no estado tem cerca de 42 anos, e 45% das denúncias envolvem médicas. Os hospitais são os locais mais comuns de agressão, representando 45% dos casos no estado, seguidos por postos de saúde (18%) e clínicas (17%).
O Paraná é o segundo estado com mais ocorrências de violência contra médicos, com 3,9 mil registros, enquanto Minas Gerais aparece em terceiro, com 3.617 boletins. As capitais Curitiba e Belo Horizonte concentram, respectivamente, 12% e 22% dos casos nesses estados.
O estudo ainda indicou que alguns estados, como Rio Grande do Norte e Acre, não forneceram os dados completos. No caso de Mato Grosso e Rio de Janeiro, estimativas foram feitas para calcular o número de médicos afetados, já que os boletins não especificam a profissão das vítimas em grande parte dos registros.
Diante desse cenário, o CFM orienta que os médicos vítimas de ameaça ou agressão registrem a ocorrência na delegacia mais próxima, informem por escrito as direções clínica e técnica da unidade onde trabalham e forneçam os dados dos envolvidos e testemunhas. Em casos de agressão física, recomenda-se ainda a realização de exame de corpo de delito e a substituição imediata do médico agredido por outro profissional.