quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Quando a gente fica sem sal

Quem não gosta de uma comida bem temperada, sal na dose certa, com um sabor autêntico, com um aroma que envolve e faz você desejar muito aquele alimento?

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Acho que não temos exceção, pois se há uma coisa que todo mundo concorda é que a comida tem que ser gostosa. Com sabor, com cheiro, com textura e até mesmo com apresentação do prato sobre a mesa. Tudo é importante quando se trata de comida. Dizem as más línguas que comida sem tempero só é boa quando a fome acaba. Ou ainda: barriga cheia, feijão tem bicho.

Comida bem feita e bem apresentada à mesa para quem se destina é um sinal de cuidado. Faz a gente se sentir importante. Muitos detalhes precisam ser considerados e vão além do tempero: local da refeição, toalhas, talheres, pratos, utensílios de servir, travessas etc. Mas nenhum é mais importante do que o tempero. E é aqui que eu queria chegar.

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Uma das coisas que mais fiz durante a pandemia foi cozinhar. Antes do isolamento eu me considerava muito boa nisso, mas quando me vi precisando cozinhar todos os dias minha vida, isso mudou completamente. “Meu Deus eu não aguento mais”.

O que era para ser um prazer e um ato de amor tornou-se uma obrigação, um momento de tortura. No início foi tudo bem. Testei receitas, ensinei meus filhos a fazerem bolos, hambúrgueres, pipoca, arroz, mousse e muitas outras coisas. Foi muito bom passar esses momentos com eles simplesmente cozinhando, conversando, brincando e aprendendo.

sal

Mas o que era para durar alguns meses, rapidamente se tornou dois anos. Este tempo foi o bastante para minha comida ficar sem sal, sem gosto. Tentei de tudo: comecei a cozinhar com mais óleo – foi ainda pior, fiz uma coleção de temperos, comprei até alguns que eu nem conhecia – e nada. O melhor resultado que eu conseguia era um prato mais apimentado do que o normal. Tentei também um tempero pronto que é simplesmente péssimo. Aliás, não façam isso com vocês! Usei tempero em pó, em tablete e o resultado era sempre o mesmo.

Depois dessas experiências desastrosas cheguei à conclusão que o problema não eram os temperos, era eu. Acredito que me acostumei tanto a provar a comida, os temperos e ingredientes que meu paladar já não diferenciava nenhum deles. Tudo passou a ser igual. O arroz com gosto de feijão e vice versa. Ambos sem sabor e aroma agradável.

Me desesperei ao pensar que quando a pandemia acabasse isso não ia acabar já que teria que continuar a cozinhar todos os dias para alimentar as boquinhas aqui em casa. E acreditem, é um ciclo sem fim. Almoço, jantar, sempre muitas refeições.

Hoje, quase dois anos depois de ficar esse tempo enclausurada, a minha relação com o ato de cozinhar voltou ao normal. Sigo cozinhando, afinal há seres famintos que contam comigo, mas voltei a ter prazer nesta atividade. Minha rotina mudou e logo a forma como eu me sentia com relação ao ato de cozinhar, também.

Apesar do período difícil, hoje consigo enxergar que seja cozinhando ou desenvolvendo qualquer outra atividade, quando não temos satisfação e alegria no que fazemos, até as coisas que mais dominamos são capazes de sair do eixo.

A minha experiência se deu ao cozinhar, algo que eu dominava e fazia bem, mas ao se deixar levar pelas obrigações do dia a dia até quadros similares ao que eu vivi é algo que pode ocorrer nos diferentes âmbitos das nossas vidas.

Por isso, sempre que estiver ao seu alcance optar em fazer algo que te faça bem, ou parar de fazer algo que já não te satisfaz, não hesite, se escolha e não deixe que a vida fique sem sal.

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Ludimila Nunes Mantovani
Ludimila Nunes Mantovani
Mulher, mãe de três filhos, sendo um deles autista, Assistente Social da UFES

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