sábado, 2 de novembro de 2024

Espumantes podem ir além de festas na rotina do brasileiro

Ano-Novo, Natal, casamentos. Quando se pensa nas ocasiões em que se pode beber um espumante, são essas datas que costumam vir à cabeça. Algumas vinícolas, no entanto, querem desmistificar o consumo da bebida e ampliar os momentos em que o brasileiro toma este tipo de vinho.

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A ideia de usar o espumante apenas para celebrações apareceu como uma forma de marketing. A bebida surgiu quase sem querer. Durante a produção de vinhos tranquilos —como são chamados vinhos brancos e tintos—, produtores na região de Champagne, na França, foram surpreendidos com uma dupla fermentação das bebidas na garrafa.

É essa dupla fermentação que gera a perlage, as famosas borbulhas. Diante do novo produto, era necessário criar uma diferenciação em relação aos outros tipos de vinho, e a bebida passou então a ser associada as celebrações —ao menos, essa é uma das versões mais aceitas sobre o tema.

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Acontece que isso gera um problema para os produtores: o pico de consumo da bebida fica ligado às datas festivas. Em um país como o Brasil, que vem se tornando referência na produção de espumantes de qualidade, a proposta de ampliar o consumo é não só importante para as vinícolas, como pode muito bem dar certo.

“O Brasil é um país tropical, e espumante é uma bebida refrescante, que combina com praia ou piscina”, explica o sommelier Rodrigo Ferraz.

Além disso, a bebida é muito gastronômica, ou seja, harmoniza com uma variedade grande de pratos. “Vai bem com frituras, que são comuns aqui no Brasil. Os bolinhos, as comidas de praias”, acredita.

Outra forma de consumir a bebida é pura, sem acompanhamento. E, nesse quesito, o espumante pode até ser melhor que o vinho tinto, de certa maneira, diz o sommelier.

Isso porque os taninos, presentes ao primo mais popular, podem em alguns casos exigir uma harmonização mais elaborada, o que assusta consumidores menos experientes.

A Chandon é uma das vinícolas que seguem a linha de ampliar os momentos nos quais o espumante é consumido. “Não é popularizar, é mostrar que não somos aquela fortaleza inatingível que muitas pessoas podem imaginar”, afirma Philippe Mével, enólogo da marca.

Com este objetivo, a empresa criou a Casa Chandon, no Rio de Janeiro, espaço conceito no qual o público pode entrar em contato com os diferentes tipos de espumantes produzidos pela empresa e participar de harmonizações.

O local teve sua primeira versão itinerante instalada em São Paulo, passou pela capital carioca, e deve chegar ao nordeste nos próximos meses.

Até alguns cânones do mundo do vinho a marca tenta quebrar: alguns estilos de espumantes são consumidos com gelo.

“Hoje é possível encontrar no mercado uma variedade de rótulos que atende diferentes tipos de gostos, de clima e de bolsos”, avalia Maiquel Vignatti, sommelier e gerente de marketing da Vinícola Garibaldi.

Ele cita a existência dos espumantes moscatel, demi sec, brut e do extra brut, o que “oferece uma diferenciação determinante para atrair um público mais jovem, que ainda não é consumidor, e também para atender o consumidor mais maduro e habituado a esse tipo de bebida”.

“O espumante é, desde suas origens, atrelado a conceitos de sofisticação e elegância. É considerado o ‘rei dos vinhos’ pelo fato de passar por duas fermentações. É também a bebida que melhor representa o ato da celebração, ou seja, o brinde”.

A sommelier Silvana Aluá acha que os espumantes combinam com bolo, e que talvez essa harmonização tenha contribuído ainda mais para o imaginário que sempre associa celebrações à bebida. Mas Aluá afirma que este tipo de vinho é “um coringa”, e que ele harmoniza com muitas comidas típicas do Brasil.

“Acarajé. Espumante e Acarajé é perfeito”, comenta.

Para ela, o movimento de tirar a sazonalidade do consumo do espumante é importante no momento em que o Brasil celebra sua primeira Denominação de Origem —este é o primeiro reconhecimento do tipo fora da Europa, focado exclusivamente em espumantes.

Agora, todas as garrafas de espumante que tiverem o selo da D.O. Altos de Pinto Bandeira terão a certificação de que foram produzidas com garantia da procedência e qualidade das uvas, nas específicas condições de terroir da região.

Para ter direito ao uso do selo da D.O. em seus espumantes naturais, segundo a Embrapa, as vinícolas da área delimitada têm que cumprir regras rigorosas de controle, desde o cultivo das uvas até o engarrafamento.

O espumante, na prática, já vem entrando no dia a dia das pessoas, afirma Daniel Geisse, diretor de marketing da Vinícola Geisse e presidente da Associação dos Produtores de Vinho da D.O. Altos de Pinto Bandeira.

“A gente percebe o aumento no consumo de espumantes nos restaurantes. O salto é muito grande. Isso quer dizer que as pessoas começaram a entender que os espumantes são a melhor alternativa em uma harmonização, porque dificilmente você irá cometer algum equívoco”, diz.

Ele conta que os espumantes do Novo Mundo (Américas, Oceânia, África) são especiais para harmonizar em diferentes momentos de consumo. A versatilidade deste tipo de vinho produzido fora da Europa vem da acidez, que é alta, mas equilibrada, o que permite elaborar espumantes mais secos.

“O espumante ajuda a manter a intensidade do sabor durante toda a refeição. A satisfação em uma refeição acompanhada por espumante, normalmente é maior”.

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