Em mais uma decisão autoritária (e, sejamos honestos, bastante preconceituosa), o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), limitou o horário de funcionamento dos bares no Centro durante o Carnaval.
Seguindo sua tradição, a decisão foi imposta sem diálogo, em reunião ocorrida na terça 14 de fevereiro. Além do fechamento dos bares, a imposição também veio na ausência de banheiros químicos fora da Beira Mar, área pela qual circularão os blocos.
O que esperar de um prefeito cujo início de mandato foi marcado pela atroz suspensão das chamadas “linhas verdes”? Decisão sem diálogo, importante lembrar. Como resultado, vemos a piora do trânsito nos trechos impactados. A falta de diálogo com a população é marca típica de um governante autoritário, e Pazolini cumpre muitíssimo bem essa função.
Porém, a coisa parece passar por outros aspectos. Lembremos do ano passado, da programação de aniversário de Vitória. Um evento público como esse, de aniversário de uma cidade, não pode privilegiar a fé do mandatário.
O aspecto higienista, ao juntarmos essas determinações, é claro. Horror à manifestações populares, festas de rua. Ainda deputado, Pazolini protagonizou ao lado de Vandinho Leite (PSDB), Torino Marques (PSL), Danilo Bahiense (PSL) e Carlos Von (Avante) grotesca invasão de hospital público no auge da pandemia de Covid-19 em 2020 (após fala de Bolsonaro naqueles shows de horrores que eram suas lives semanais).
Seu alinhamento com a extrema direita mais sectária e divisiva não é novidade. O Carnaval é a festa do povo, um dos poucos momentos de liberação das amarras das convenções sociais. O fato de o prefeito ou não ser capaz de compreender isso, ou nutrir horror puro e simples por esse aspecto, diz algo sobre ele e nada sobre a natureza dessas festas.
Há problemas, sem dúvida. Mas eles devem ser resolvidos com diálogo com a população afetada por esses problemas, não através de imposição pura e simples. Vitória é uma cidade linda, que merece respirar cultura de todas as vertentes, do erudito ao popular.
Não podemos ser reféns da extrema direita, que tem como uma de suas características históricas o desprezo pela cultura (uma máxima nazista, presente em peça do autor nazi Hanns Johst e frequentemente atribuída a Goebbels ou Göering, diz que se deve logo sacar uma pistola ao ouvir a palavra “cultura”).
E a matéria publicada ontem aqui n’O Capixaba demonstra bem o que isso significa: uma prefeitura elitista, que não quer ver pobres e periféricos circulando por um bairro central numa festa popular.