Theatro Carlos Gomes reabre as portas com Caburé, espetáculo que acende a memória negra capixaba
O Centro de Vitória anda celebrando um verdadeiro renascimento cultural e o Theatro Carlos Gomes, que voltou ao mapa afetivo da cidade, resolveu não brincar em serviço. Para marcar a reabertura, a casa oferece uma programação gratuita que já está arrancando o público do sofá e devolvendo gente às ruas históricas do Centro. Entre as atrações, destaca–se Caburé, espetáculo do Instituto Cultural Tambor de Raiz, que toma o palco no dia 29 de novembro às 19h.
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A montagem mergulha em um capítulo decisivo da história capixaba, revisitando a resistência do povo negro escravizado no Sapê do Norte, região que entrelaça Conceição da Barra e São Mateus. Conhecida no período colonial como potência na produção de farinha de mandioca, essa mesma região foi também terreno fértil para levantes conduzidos por lideranças negras que se recusaram a aceitar o destino imposto pela escravidão. Entre elas, desponta a figura de Negro Rugério, que liderou processos de aquilombamento e inspirou parte da narrativa levada ao palco.
O nome Caburé carrega múltiplos sentidos. Pode ser mestiço de negro e indígena, pode ser o som de coruja usado como comunicação entre pessoas escravizadas, pode ser até bolo de mandioca ou alguém que só aparece de noite. Mas aqui, é sobretudo o símbolo de uma história contada a partir de pesquisa intensa realizada pelo Instituto Cultural Tambor de Raiz, grupo sediado em Conceição da Barra que há anos se dedica à preservação da memória quilombola do Sapê do Norte.
A cena apresentada no Carlos Gomes reforça um movimento mais amplo do Instituto, que une arte, educação e investigação histórica para reacender narrativas muitas vezes apagadas da história oficial. Desde a retomada do espetáculo em formato online em 2021 até a circulação que, em 2023, passou por treze municípios, Caburé vem ampliando o diálogo entre memória e comunidade e fortalecendo vínculos com o público.
Com direção de Nieve Matos, música original de Elinho Guimarães e elenco formado por Didito Camillo, Fabíola Guimarães, Fábio Cícero e Danilo Lopes, a obra chega ao palco com rigor artístico e emocional. O Instituto, que também mantém uma escola de arte atendendo mais de cinquenta crianças quilombolas, mostra que cultura e território podem caminhar juntos sem perder potência.
A apresentação integra ações viabilizadas pelo FUNCULTURA, pela Secretaria de Cultura do Espírito Santo, pela Política Nacional Aldir Blanc e pelo patrocínio da Suzano. Para o público, resta apenas aceitar o convite: entrar no Theatro renovado, respirar história viva e apreciar um espetáculo que honra quem resistiu para que o presente exista.
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