Restauro no Centro de Vitória ganha fôlego com jovens formados pelo Projeto EMPAO
O Centro de Vitória, com suas fachadas antigas, igrejas seculares e monumentos que contam a história capixaba sem abrir a boca, vive um novo momento de revitalização. E quem está ajudando a devolver brilho a esse patrimônio não é apenas argamassa ou tinta fresca, mas uma geração de jovens que decidiu transformar a própria trajetória enquanto restaura a memória da cidade.
Eles fazem parte do Projeto EMPAO — Escola Multidisciplinar Profissionalizante de Artes e Ofícios — iniciativa do Instituto Goia em parceria com a Petrobras, que voltou a pleno vapor em 2024 e segue firme em 2025. O programa capacita gratuitamente jovens da Grande Vitória em técnicas de conservação, restauro, carpintaria, marcenaria, estuque e pintura, combinando aulas teóricas com oficinas práticas e estágios monitornados remunerados. É quase como se o passado ganhasse aprendizes, e o futuro ganhasse profissionais.
Com turmas pequenas e ensino intensivo, o EMPAO já formou cerca de 300 restauradores ao longo de sua trajetória, muitos deles hoje atuando diretamente em obras históricas do estado. Parte dessa mão de obra, inclusive, trabalha na preservação de espaços emblemáticos do Centro de Vitória, como o Museu Solar Monjardim, a Igreja São Gonçalo e outros edifícios e monumentos que compõem o conjunto arquitetônico tombado da região. Somente o Instituto Goia já executou cerca de 40 intervenções no entorno, algumas com participação direta dos alunos em estágio.
A retomada do EMPAO tem impacto direto no cenário cultural e urbanístico da capital. O mercado capixaba ainda carece de profissionais especializados em restauro, e a formação oferecida pelo projeto preenche exatamente essa lacuna — enquanto oferece oportunidades a jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica. É a combinação rara em que o tijolo conserva a parede e a capacitação conserva vidas.
Isadora, aluna da turma da tarde, resume o sentimento que tem guiado grande parte dos participantes. “Eu tenho 27 anos e já trabalho com arte há 10 anos. Estou entendendo o grau de importância que isso tem para a sociedade. Valorizar o nosso patrimônio e a nossa história. E eu gosto muito”, conta ela, durante uma oficina de estuque.
A Grande Vitória, composta por Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Fundão e Guarapari, concentra inúmeros bairros que têm tudo a ver com esse tipo de qualificação: regiões próximas a imóveis históricos, mas marcadas por vulnerabilidades que dificultam o acesso a formação profissional. O EMPAO, nesse contexto, funciona como ponte dupla: reconecta jovens ao mercado de trabalho e reconecta a cidade à sua própria memória.
A parceria com a Petrobras garante infraestrutura, acompanhamento pedagógico e continuidade das atividades, consolidando o projeto como referência nacional em educação patrimonial. Para 2025, 40 novas vagas foram abertas em dois turnos, ampliando o alcance da iniciativa e reforçando a missão de formar restauradores capazes de transformar prédios, ruas e, por que não, o próprio destino profissional.
Com novas turmas em andamento e planos de expansão, o EMPAO reafirma-se como uma das mais importantes ações de preservação cultural em curso no Espírito Santo. E, a cada parede raspada, detalhe recuperado ou peça restaurada, o Centro de Vitória agradece — afinal, memória bem cuidada é muito mais que passado: é futuro preservado.







