4 de dezembro de 2025
quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

“Quarto de Despejo” vira filme e destaca a força de Carolina Maria de Jesus

A trajetória de Carolina Maria de Jesus, autora de Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada, será levada ao cinema pela primeira vez. O longa, com título provisório “Carolina – Quarto de Despejo”, está sob a direção de Jeferson De (diretor de Doutor Gama) e com roteiro assinado por Maíra Oliveira, e busca reconstituir a vida da escritora negra que transformou a experiência na favela do Canindé, em São Paulo, em uma obra emblemática da literatura brasileira. A atriz Maria Gal interpreta Carolina, personagem que exigiu mudanças físicas e emocionais significativas.

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As primeiras imagens da produção foram apresentadas na quinta-feira (20), Dia da Consciência Negra. Maria Gal, que também atua como produtora, declarou que a transformação do cabelo para encarnar Carolina não foi apenas estética, mas uma porta de entrada para acessar uma verdade que transcende a própria vivência, ressaltando a dimensão histórica e literária da escritora.

Adaptação de um clássico que marcou o país

Lançado em 1960, Quarto de Despejo expôs, com crueza e poesia, as desigualdades do Brasil das décadas de 1950 e 1960, abordando a fome, o racismo, a violência e a necessidade urgente de direitos básicos. O livro ultrapassou a marca de 3 milhões de exemplares vendidos e foi traduzido para 14 idiomas, tornando-se best-seller em 11 dos 16 países onde foi publicado e consagrando Carolina como a primeira escritora negra brasileira a obter reconhecimento internacional, apesar de ter apenas dois anos de ensino formal.

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O filme pretende revelar múltiplas dimensões de Carolina: a catadora de papel, a mãe solo, a mulher pobre e negra, e também a autodidata, amante de música clássica, interessada em política, com aspirações de elegância e que reivindicava cidadania por meio da escrita. Maria Gal destacou que condensar tantas histórias em 1h30 não é suficiente e que houve uma responsabilidade cidadã para viabilizar essa narrativa.

A produção reúne Move Maria, Raccord Produções, Buda Filmes e Globo Filmes, e conta no elenco com nomes como Raphael Logam, Clayton Nascimento, Liza Del Dala, Carla Cristina, Ju Colombo, Jack Berraquero, Fábio Assunção, Alan Rocha e Thawan Lucas.


Uma heroína plural, urgente e atual

O projeto nasceu ao longo de mais de uma década; trata-se de um processo de aproximadamente 11 anos que agora entrou em fase de filmagem, considerado pelos envolvidos um momento histórico e simbólico, especialmente por acontecer no mês da Consciência Negra e por prestar homenagem à importância de Carolina.

Foi enfatizada a relevância da representatividade também nas equipes por trás das câmeras: direção e produção trazem perspectivas negras que buscam contar a história com fidelidade à memória e à grandeza da escritora, segundo atriz e equipe.

A obra de Carolina foi descrita como um espelho do país, abordando ancestralidade e lutas das gerações anteriores, e apontando que muitos dos temas que ela tratou na década de 1950 permanecem urgentes na atualidade.

Entre os temas ressaltados estão: educação; segurança alimentar e fome; falta de mobilidade urbana e acesso digno à cidade; violência doméstica; protagonismo feminino e negro em uma sociedade que tentou silenciá-los.

Carolina, Clarice e o apagamento

Foi ressaltado o apagamento histórico em torno da figura de Carolina e a necessidade de ampliar seu reconhecimento no país. Em reuniões para viabilizar o projeto, observou-se que a maioria conhecia Clarice Lispector, mas desconhecia Carolina Maria de Jesus, evidenciando lacunas na formação e no reconhecimento literário brasileiro.

Também foi lembrado o encontro emblemático entre as duas escritoras: Carolina teria dito a Clarice que era fã de sua obra pela elegância da escrita, ao que Clarice teria respondido destacando que Carolina escrevia a realidade, uma diferença que sublinha a força documental e concreta da sua escrita.

Debates sobre a representação visual da autora são recorrentes: suas imagens costumam trazê-la com roupas gastas e lenço branco na cabeça. O lenço foi apontado como um símbolo marcante em sua trajetória, e a produção cinematográfica propõe uma provocação em torno desse elemento visual.

Legado vivo

Décadas após seu falecimento, Carolina continua alimentando reflexões sobre desigualdade, literatura, política, estética e identidade. A prática de revisitar trechos de Quarto de Despejo em momentos cotidianos foi citada como forma de reconhecer sua presença diante de situações de pobreza, fome, debates políticos e da falta de visibilidade dos protagonistas negros na sociedade, além de celebrar a riqueza e a urgência da cultura.

Sem data definida de estreia, o filme “Carolina – Quarto de Despejo” propõe ocupar o lugar que a escritora merece no cinema nacional, devolvendo-lhe o protagonismo de sua própria história.

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