No primeiro dia da COP30 em Belém, uma tempestade inundou os pavilhões do evento. Mal começaram as discussões sobre a crise climática, e as delegações de 194 países já encararam um evento climático extremo. Três dias antes, 07 de novembro, um tornado atingia Rio Bonito do Iguaçu, no estado do Paraná. “O antes e o depois do tornado que destruiu 90% de cidade no Paraná” (BBC), mostrou para o Brasil e para o mundo que quando falamos de crise climática, não é só sobre “[…] ruas cobertas por escombros, escolas reduzidas a escombros e bairros inteiros sem energia elétrica”, é sobre as “[…] sete pessoas [que] morreram e mais de 750 [que] ficaram feridas em todo o Estado”.
As notícias chamam o tornado de “fenômeno natural”, que de natural não tem nada, como disseram o geógrafo Adriano Liziero (@geopanoramas) e a mestra em ecologia política Bebel (@bebel_ecologia): “Estamos vivendo uma roleta russa climática”.
Esperava-se que após as enchentes no Sul, algo seria aprendido sobre prevenção e proteção à vida durante eventos climáticos extremos. Porém, a verdade é que só é feito algo depois que a tragédia acontece. “A Defesa Civil aponta que 14,6 mil pessoas foram afetadas diretamente pelo tornado, com 672 casas danificadas, […] mais de 1 mil pessoas estão desabrigadas e desalojadas desde o temporal” e que apesar do Departamento de Estradas e Rodagem do Paraná (DER) investir R$5,5 milhões em manutenção de rodovias atingidas pelo tornado, a prioridade é a construção de casas para a população afetada, sendo que já tem previsão para mais chuvas fortes no dia 13 de novembro (Itatiaia Brasil).
O Lula citou o “[…] tornado no Paraná para reafirmar importância da COP30”, mas de que adianta se as 4 empresas brasileiras que financiam a COP30 são as que mais agravam a crise climática: Vale, JBS, Petrobras e Suzano.
A Vale já tem um nome renomado em crimes ambientais, pela impunidade nos rompimentos das barragens de Brumadinho e Mariana. Já a JBS é uma gigante da indústria da carne (olha o Agro aí dando as caras), a empresa financia 7 veículos de comunicação: CBN, Estadão, Folha de S. Paulo, O Globo, Valor Econômico, Veja e Neofeed (The Intercept Brasil). Na reportagem “Vale e JBS são as que mais patrocinam cobertura jornalística da COP30 na grande mídia”, o Intercept Brasil expõe quais são os veículos, quais os interesses dos patrocínios dessa cobertura e como essas empresas são responsáveis por violações socioambientais.
A Petrobras não fica para trás. Às vésperas da COP30 a Petrobras censurou uma postagem de ativistas ambientais denunciando a empresa por greenwashing na COP30, baseada em uma investigação feita pela Agência Pública. A investigação denunciou que a “Petrobras paga influencers para convencer gen Z sobre transição energética”. E o coletivo de ativistas (@climaacido) respondeu a censura e que seguiram denunciando “[…] a Petro de greenwashing, pagando influencers que você confia pra limpar as mãos sujas de petróleo dela”.
Já no caso da Suzano, a situação não melhora. Nem precisa pesquisar muito para achar manchetes como “Suzano: gigante do setor de celulose ameaça sobrevivência de camponeses no Maranhão”, “Vista como sustentável, Suzano acumula denúncias ambientais”, “MPF reafirma fraude da Suzano na aquisição de terras no Sapê do Norte”. Esta última noticiada pelo Século Diário afirmou que “A Suzano cometeu crimes de grilagem para registrar milhares de hectares de terras localizadas no território quilombola tradicional do Sapê do Norte, situado nos municípios de São Mateus e Conceição da Barra”.
Voltando para os patrocinadores da imprensa na cobertura da COP30, o “Agro fez campanha de guerra para manipular a opinião pública às vésperas da COP30”. O relatório noticiado pelo Intercept Brasil “[…] mostra como o agro brasileiro agiu para enganar a opinião pública e controlar a narrativa em torno da COP30”.
O Brasil de Fato também noticiou um trabalho que será divulgado na COP30 em um ciclo de debates na Cúpula dos Povos: “De olho nos ruralistas e Fase lançam estudo sobre lobbies na COP30”. Nomeada de “A COP dos Lobbies”, o documento de 94 páginas, mostra como as empresas e interesses privados capturam as negociações climáticas na COP30. Na lista das empresas analisadas estão: “[…] mineradoras Vela e Hydro, o frigorífico MBRF (Marfrig e BRF), a sucroalcooleira Cosan, a gigante do papel e celulose Suzano, a fabricante de agrotóxicos e sementes transgênicas Bayer e os bancos Itaú e BTG Pactual”.
A participação de bancos na COP30 vai além do Itaú. Há 100 dias da COP30 a AgFeed já tinha noticiado: “De olho na COP30, gigantes corporativos brasileiros se unem em iniciativa para escalar projetos ambientais”. O título pinta as corporações como salvadoras, mas os nomes levantam suspeitas de balcão de negócios: “Com agro incluso, projeto lançado em conjunto por Bradesco, Itaú, Itaúsa, Natura, Nestlé e Vale busca selecionar, agrupar e impulsionar soluções ambientais brasileiras para apresentá-las à comunidade internacional na conferência [COP30] de Belém”.
Como desgraça pouca é bobagem e sempre tem mais. Se no “1º dia de COP30 tem pavilhões sem energia, chuva forte, trânsito e água escorrendo pelas paredes”, na sequência vem “PF quer arquivar inquérito sobre assassinato de servidor da Funai ligado a caso Bruno e Dom”. Que o Brasil é um dos países mais perigosos para ambientalistas e ativistas ecológicos, porque denunciam práticas ilegais seja do agro, mineradoras ou gigantes da celulose, tenta passar despercebido que “A Polícia Federal sugeriu à Justiça Federal do Amazonas que arquive a investigação sobre o assassinato do indigenista Maxciel Pereira dos Santos, 35, ocorrido em 2019. O crime permanece impune, sem que PF e Ministério Público Federal, o MPF, tenham indicado ao Judiciário os autores ou mandantes” (Intercept Brasil). O caso de Bruno e Dom foi amplamente divulgado, principalmente porque Dom era jornalista britânico. Já o caso de Maxciel não teve tanta repercussão, logo querem enterrar o assunto. Quem tem interesse em arquivar a investigação do assassinato de Maxciel?
O que nos resta diante de tantas tragédias? Continuar nos organizando como classe, se juntando aos coletivos como dos ativistas ambientais, seguir denunciando essas empresas que grilam terras, financiam influencers e gastam milhões para limparem as suas próprias sujeiras. Afinal, para essas empresas gigantes o LUCRO vale mais do que a nossa VIDA. Por isso aconteceu o OCUPA COP e o Aldeia COP30, frutos de muita luta e organização, tudo para que as vozes ancestrais e guardiãs das florestas sejam ouvidas. Mas a luta continua!









