5 de dezembro de 2025
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Democratas vencem nos EUA e expõem crise no governo Trump

As eleições estaduais realizadas na terça-feira (4) ratificaram uma vitória ampla do Partido Democrata e abalaram a estrutura política associada ao governo de Donald Trump.

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Os triunfos simultâneos dos democratas em Nova York, Virgínia, Nova Jersey, Califórnia, Geórgia, Mississippi e Minnesota indicaram um eleitorado disposto a responder ao crescimento do autoritarismo na Casa Branca e à perda do poder de compra durante o segundo mandato republicano.

A combinação de inflação persistente, redução da renda real e o prolongado fechamento do governo federal, que interrompeu serviços públicos essenciais, transformou o descontentamento social em repulsa nas urnas, corroendo o apoio ao trumpismo em áreas urbanas e suburbanas.

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Em todas as votações realizadas nesta terça-feira, os democratas conquistaram vitórias expressivas, tanto em disputas de grande visibilidade quanto em corridas locais.

Condados que haviam se inclinado para a direita em 2024 retornaram à esquerda, e os subúrbios que impulsionaram os triunfos democratas na primeira gestão de Trump voltaram a apoiar com intensidade a legenda.

Segundo o Politico, os democratas “melhoraram suas margens até mesmo entre eleitores sem diploma universitário”, sinalizando um realinhamento social em torno da agenda do custo de vida.

A imprensa norte-americana descreveu o resultado como um “choque político” para o governo. A Reuters sublinhou que “o eleitorado mostrou insatisfação crescente com o foco externo de Trump, enquanto o cotidiano das famílias segue marcado pela alta de preços e pelos cortes em serviços públicos”.

O New York Times observou que “a oposição a Trump não apenas sobreviveu ao retorno do ex-presidente, como se reconfigurou em torno de novas lideranças estaduais”.

Ao mesmo tempo, o pleito revelou duas fissuras paralelas: uma no Partido Republicano, que procura responsabilizar candidatos e estratégias de campanha sem apontar Trump; e outra dentro do Partido Democrata, que passa a enfrentar um embate entre a esquerda socialista emergente e o centro institucional que tenta reconsolidar o poder.

Um dos sinais mais visíveis dessa nova fase foi a eleição de Zohran Mamdani em Nova York, interpretada como um marco da ascensão da esquerda organizada e do fortalecimento de um campo popular pós-2024.

No interior da Casa Branca, o ambiente foi de constrangimento e negação. Trump reagiu às derrotas tentando relativizar o impacto político, publicando em suas redes sociais, em letras maiúsculas, que “Trump não estava na cédula e o fechamento do governo foram as duas razões pelas quais os republicanos perderam as eleições”.

Em reunião com senadores republicanos, afirmou ainda: “Dizem que eu não estava na cédula e que esse foi o maior fator. Não sei se é verdade, mas fico honrado por dizerem isso”.

Nos bastidores, aliados reconheceram que o presidente vinha se distanciando das preocupações econômicas imediatas da população. Um assessor ouvido pelo Politico declarou que “as pessoas não sentem que ele cumpriu as promessas. Ele venceu prometendo reduzir custos e colocar mais dinheiro no bolso do povo, mas isso não se concretizou”.

Outros conselheiros buscaram persuadi-lo a centrar o discurso em temas domésticos, como inflação, renda e emprego, áreas nas quais as críticas ao governo se acirraram.

Apesar da pressão interna, Trump preferiu atribuir as derrotas a fatores externos, acusando a Califórnia de “fraude” no plebiscito que ampliou a representação democrata e ameaçando cortar recursos federais para Nova York após a eleição de Zohran Mamdani.

Essa postura reforçou a percepção, dentro e fora do Partido Republicano, de que o presidente segue mais preocupado em preservar seu capital político pessoal do que em reorganizar a gestão diante da crise.

Califórnia: Gavin Newsom lidera resposta estrutural ao trumpismo

A vitória na Califórnia foi considerada a mais estratégica do ciclo eleitoral. O governador Gavin Newsom conseguiu aprovar a Proposição 50, medida que devolve ao Legislativo a autoridade para redesenhar distritos eleitorais — uma alteração que pode garantir até cinco novas cadeiras democratas na Câmara dos Representantes em 2026, revertendo parte das vantagens obtidas pelo redistritamento republicano no Texas, apoiado por Trump para consolidar distritos na disputa nacional.

O desfecho não era previsível. Pesquisas internas indicavam apenas 38% de apoio à medida em setembro, mas Newsom transformou a campanha em um referendo contra Trump.

“Os californianos se sentiram empoderados. Era algo a fazer, não apenas a dizer”, afirmou o governador.

Analistas do New York Times avaliaram que a vitória converteu a Califórnia em “um contraponto institucional à Casa Branca” e consolidou Newsom como uma figura relevante para a disputa presidencial de 2028.

O Politico destacou que o governador “usou o trumpismo como contraste de gestão, não de ideologia: prometeu eficiência, inclusão e estabilidade, em vez de confronto”.

A imprensa progressista ressaltou o caráter simbólico da votação: a Proposição 50 representa um ajuste estrutural no sistema eleitoral e reforça o protagonismo da Costa Oeste em um momento de intensa polarização política.

No entanto, a vitória de Newsom também reflete a tentativa do establishment democrata de reocupar o centro político, posicionando-se como a alternativa racional à desordem econômica associada ao governo Trump — uma face liberal e empresarial que, ao resistir à extrema direita, preserva a lógica do capital.

Outro aspecto da vitória de Newsom é a tensão com a ala mais à esquerda do partido, energizada pela eleição de Mamdani em Nova York. O eleito na cidade mais rica do país é aliado do senador Bernie Sanders e da deputada Alexandria Ocasio-Cortez, figuras vistas como radicais à esquerda nos Estados Unidos.

Outras vitórias democratas e o mosaico nacional de reações

Na Virgínia, a democrata Abigail Spanberger obteve a maior margem de vitória para um governador democrata desde 1961, superando a republicana Winsome Earle-Sears por mais de dez pontos percentuais.

Além disso, os democratas conquistaram 13 cadeiras na Câmara dos Delegados e venceram a disputa pela Procuradoria-Geral com Jay Jones.

“Os virginianos falaram alto e claro que estão cansados do governo Trump”, afirmou a estrategista Christina Freundlich, que atuou na campanha estadual.

Em Nova Jersey, a democrata Mikie Sherrill alcançou uma vitória ampla sobre Jack Ciattarelli, transformando a eleição em um referendo direto sobre Trump. Sherrill obteve 26% mais votos do que o desempenho democrata em 2021, e sua campanha centrou-se no cancelamento, pelo governo federal, do financiamento do túnel Gateway, vital para milhões de trabalhadores.

“Trump deu um presente político a Sherrill”, observou o New York Times.

Os democratas também triunfaram na Geórgia, onde reconquistaram duas cadeiras na Comissão de Serviços Públicos, rompendo um jejum de quase duas décadas, e no Mississippi, ao quebrar a supermaioria republicana no Senado estadual.

Em Minnesota, eleições especiais resultaram em uma vitória para cada partido, com um efeito colateral que conferiu aos republicanos uma vantagem temporária na Câmara estadual.

Esse conjunto de resultados, segundo o Politico, demonstra que as vitórias democratas não foram isoladas nem meramente simbólicas, mas “parte de uma tendência nacional que combina descontentamento econômico, rejeição ao trumpismo e reorganização da base social da oposição”.

Dentro do Partido Democrata, um novo embate em formação

Embora o resultado tenha energizado o campo progressista, também abriu espaço para uma disputa interna sobre o rumo do Partido Democrata.

As vitórias simultâneas de Zohran Mamdani, em Nova York, e de moderados como Spanberger, Sherrill e Newsom marcaram o início de um confronto entre duas visões: uma vinculada à esquerda socialista, orientada pela mobilização popular e sindical; e outra, liberal e institucional, focada na estabilidade do mercado e em um discurso centrista.

“A maré azul não unificou o Partido Democrata — pelo contrário, abriu espaço para um novo embate interno”, avaliou o New York Times em editorial publicado na quarta-feira (5).

A análise indica que a sigla “ainda não consolidou uma identidade política coerente” e prevê que essa tensão tende a se intensificar até as eleições legislativas de 2026.

Enquanto Mamdani simboliza o impulso de renovação, apoiado por Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez e por setores radicais, Newsom e Spanberger emergem como representantes da retomada da governabilidade institucional.

O resultado aponta para uma coalizão vencedora, porém fragmentada, onde o consenso programático permanece em disputa.

Essa divergência traduz o choque entre duas linhas políticas no interior do campo democrata norte-americano: de um lado, a tentativa de recuperar a legitimidade do capital sob uma roupagem progressista; de outro, a construção de uma democracia popular como resposta à precarização e à guerra social atribuída ao trumpismo.

Republicanos se dividem e poupam Trump da derrota

No campo republicano, a noite eleitoral gerou desconforto e acusações internas. Segundo o New York Times, a liderança do partido responsabilizou candidatos, o fechamento do governo e a falta de foco econômico, mas evitou apontar Trump como responsável.

O presidente da Câmara, Mike Johnson, afirmou que “a continuidade da agenda presidencial depende de manter o controle do Congresso” e revelou que Trump prometeu “mais envolvimento em comícios e arrecadações” no próximo ano.

Outros aliados defenderam mudança de tom. O ex-estrategista Steve Bannon disse ao Politico que Trump precisa “dobrar e triplicar a aposta em sua agenda populista”, enquanto o vice-presidente JD Vance afirmou que “é hora de focar no front doméstico”.

Vivek Ramaswamy, bilionário doador e apoiador de Trump, publicou vídeo nas redes sociais alertando: “Nosso lado precisa falar de acessibilidade. Tornar o sonho americano possível, reduzir custos.”

Mesmo assim, analistas conservadores reconhecem que o problema é mais profundo.

A aprovação de Trump caiu para 37%, e mais de 60% dos eleitores desaprovam sua gestão do fechamento do governo.

O comentarista Erick Erickson escreveu no X que “o presidente e sua base abraçaram as mesmas políticas que elevaram os custos e não conseguem admitir isso”.

“Ao que tudo indica, Trump não estava nas urnas, mas sua sombra pesou mais do que nunca sobre a derrota republicana”, resumiu o New York Times.

No balanço final, o partido que conquistou a Casa Branca em 2024 se encontra agora dividido entre a fidelidade ao líder e o receio de perder poder local. O trumpismo, antes sinônimo de mobilização, começa a se transformar em um fardo eleitoral.

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