O impacto do medicamento depende da regularidade do uso. Segundo Ribas, quando empregado de forma contínua, o bloqueio cardiovascular tende a ser mais prolongado, podendo durar até 72 horas. Por outro lado, a resposta a uma dose isolada se dissipa em poucas horas.
Em psiquiatria, a recomendação dominante é, em geral, o uso esporádico, por exemplo antes de uma prova, apresentação ou exposição pública. Admoni ressalta que, para quem enfrenta ansiedade de desempenho, o medicamento pode ser útil, desde que seja usado junto com acompanhamento psicológico, pois a ansiedade deve ser tratada na sua origem e não apenas ter seus sintomas aliviados.
Perigo da “muleta emocional”
Especialistas apontam que o maior risco de utilizar o fármaco sem indicação é transformá-lo em um suporte permanente. Scocca diz que não há comprovação de dependência física ao propranolol. Há, porém, possibilidade de dependência psicológica: a pessoa passa a acreditar que só consegue enfrentar situações difíceis se tomar o remédio antes, o que prejudica o desenvolvimento natural da autoconfiança.
A psiquiatra Danielle Admoni compartilha essa avaliação: usar o medicamento apenas no momento da crise não resolve o problema. É preciso compreender por que a exposição é tão difícil e trabalhar a ansiedade de forma mais profunda; a medicação pode facilitar a realização de algo importante, mas não elimina a condição subjacente.
Para os médicos, a mensagem é clara: o betabloqueador não é uma solução para a ansiedade, mas sim um recurso pontual para controlar manifestações físicas.








