A Netflix avalia uma das maiores aquisições de sua trajetória. A plataforma contratou o banco Moelis & Co. para analisar a eventual compra da Warner Bros Discovery, dona de franquias como Harry Potter e Batman, além do serviço HBO Max.
De acordo com a Reuters, a Netflix já obteve acesso a dados financeiros da empresa e avalia a viabilidade da operação. Se for adiante, a transação representaria uma mudança significativa na estratégia da companhia, que historicamente cresceu principalmente de forma orgânica, e ampliaria sua influência em um mercado cada vez mais concentrado.
Possibilidade de acordo entre Netflix e Warner reforça estratégia de sobrevivência
O eventual negócio entre Netflix e Warner Bros Discovery incide sobre um setor em profunda transformação. Com a queda de audiência da TV linear e a intensa concorrência entre serviços de streaming, grandes conglomerados buscam fusões para ganhar fôlego financeiro e ampliar catálogos.
A entrada da Netflix nessa dinâmica indica que até as líderes do mercado consideram a consolidação uma alternativa necessária para preservar o crescimento.
O que a Netflix quer comprar
A oferta em discussão contempla apenas parte das operações da Warner Bros Discovery. A Netflix teria interesse nos estúdios de cinema e televisão, que detêm propriedades como Harry Potter e Batman, além das plataformas de streaming, incluindo a HBO e o serviço HBO Max.
Esses segmentos reúnem os ativos de conteúdo mais valiosos da companhia, justamente os recursos que podem fortalecer o catálogo global da Netflix e atrair públicos diversos.
Por outro lado, os canais a cabo da Warner, como CNN, TNT, Food Network e Animal Planet, não despertam interesse na Netflix. O CEO Ted Sarandos deixou claro que a empresa não pretende investir em “mídia tradicional”, optando por focar em plataformas digitais e em conteúdo sob demanda.
Para tocar a operação, a Netflix contratou o banco de investimento Moelis & Co., o mesmo que assessorou a Skydance Media na aquisição da Paramount Global.
Fontes ouvidas pela Reuters afirmam que a Netflix já recebeu acesso a informações financeiras da Warner, um passo avançado no processo de avaliação de uma proposta formal.
Isso indica que a iniciativa ainda não é uma oferta oficial, mas saiu da fase de sondagem. Trata-se de um estudo de viabilidade estruturado, com análise de receitas, custos e potenciais sinergias.
Em apresentação recente a investidores, Sarandos afirmou que a Netflix é “mais construtora do que compradora”, embora considere aquisições quando contribuem para reforçar o portfólio e tornam o serviço mais atraente aos assinantes.
A nova fase da Warner
A Warner Bros Discovery atravessa um período de reestruturação. A empresa confirmou que está avaliando alternativas estratégicas após receber três ofertas não solicitadas, incluindo uma da Paramount Skydance, controlada por David Ellison.
O conselho considera duas opções: manter o plano de cisão, separando estúdios e streaming da divisão de TV, ou vender parte ou a totalidade da empresa.
A decisão ocorre num contexto de endividamento elevado e de profundas mudanças no mercado de entretenimento, marcado pela perda de audiência da TV tradicional e pela desaceleração do crescimento das plataformas de streaming.
Grandes grupos buscam escala, sinergia e redução de custos para atender às exigências de investidores por rentabilidade, enquanto os custos de produção seguem em alta.
O que Hollywood pode perder
Mesmo que uma eventual venda da Warner traga ganhos financeiros e de eficiência, especialistas alertam para os riscos da excessiva concentração no setor de entretenimento.
Em artigo na Bloomberg, o professor Paul Hardart, da Universidade de Nova York (NYU), afirma que fusões desse tipo podem enfraquecer o ecossistema criativo de Hollywood.

Segundo o acadêmico, a indústria depende do equilíbrio entre talento, capital e competição. Quando poucos conglomerados controlam produção e distribuição, reduzem-se as chances de inovação e o espaço para diversidade e novas vozes.
Hardart compara a possível venda da Warner a operações recentes, como as fusões Fox-Disney e MGM-Amazon, que resultaram em demissões, padronização de conteúdo e menor diversidade de produções.
O Sindicato dos Roteiristas dos EUA (WGA) também se posicionou contra a transação, qualificando-a como “um desastre para roteiristas, consumidores e para a concorrência”.








