A União Europeia estuda endurecer as regras para concessão de vistos a cidadãos russos, diante da suspeita de que viagens turísticas sejam usadas como disfarce para atividades de espionagem e sabotagem promovidas pelo governo russo.
Desde 2022, a Comissão Europeia vem ampliando as exigências para emissão de vistos a cidadãos russos, tornando o processo mais oneroso, demorado e sujeito a verificações detalhadas.
Essas medidas foram adotadas após alertas de que a livre circulação na UE poderia ser explorada pela Rússia como parte de sua estratégia de guerra híbrida, incluindo ataques digitais, coleta de informações e difusão de notícias falsas.
Ylva Johansson, ex-comissária europeia para Assuntos Internos, afirmou que a Rússia representa um risco à segurança e que facilitar a entrada de eventuais agentes de inteligência põe em perigo todos os países do bloco.
Contrariando expectativas, o número de vistos concedidos a russos cresceu 25% em 2024, ultrapassando meio milhão de autorizações, a maioria para fins turísticos.
Mudanças no processo de visto
O acordo de simplificação de vistos entre UE e Rússia, vigente desde 2007, foi completamente suspenso em setembro de 2022, após as restrições implementadas no começo daquele ano.
O custo do visto subiu de 35 para 80 euros, enquanto o prazo de análise pode se estender por até 45 dias, segundo o jornal The Politico.
Nações como República Tcheca, Finlândia e os países bálticos quase deixaram de emitir vistos turísticos a russos; França, Espanha, Itália e Hungria mantiveram posturas mais abertas.
Manfred Weber, líder do Partido Popular Europeu, criticou as nações menos rigorosas, argumentando que elas permitiriam a cidadãos russos burlar as restrições e representar uma ameaça à segurança do continente.
Novo sistema de controle
A UE começou a implantar o Sistema de Entrada/Saída, que usa biometria para monitorar a movimentação de visitantes de países fora do bloco.
Kaare Dybvad Bek, ministro da Imigração da Dinamarca, afirmou que o novo mecanismo ajudará a garantir o cumprimento das normas e fortalecerá a proteção das fronteiras.
A implementação completa em todos os países do espaço Schengen está prevista para abril de 2026, com o objetivo principal de reduzir riscos de espionagem e atos de sabotagem.
Incidentes de segurança
Autoridades ucranianas registraram 110 casos relacionados à Rússia em território europeu entre janeiro de 2022 e julho de 2024, incluindo sabotagens, incêndios dolosos e tentativas de homicídio.
Na Polônia, dois russos foram condenados por espionagem em favor do grupo Wagner em fevereiro de 2024, reavivando preocupações sobre o uso de viagens turísticas para fins ilegais.
O bloco europeu já impôs sanções a mais de 2.500 pessoas e organizações ligadas ao aparato militar e à propaganda do Kremlin, embora cidadãos russos com dupla cidadania ainda encontrem brechas para circular pela UE.
Rihards Kozlovskis, ministro do Interior da Letônia, classificou a situação como guerra híbrida e defendeu controles mais severos; analistas, por sua vez, alertam para possíveis preparativos russos para um confronto direto com a OTAN.
Futuras medidas
A Comissão Europeia prepara novas orientações para o final de 2025, estabelecendo critérios mais rigorosos para vistos de cidadãos russos e de pessoas de outras nações consideradas adversárias.
Embora as diretrizes abordem questões de segurança emergentes, cada país membro manterá autonomia para definir suas próprias políticas de visto, segundo o The Politico.
Polônia, Estônia e Lituânia defendem veto total a cidadãos russos, especialmente aos envolvidos no conflito ucraniano, enquanto Hungria, França e Espanha resistem a medidas extremas.
Jan Lipavský, ministro tcheco, propôs restrições inclusive a diplomatas russos, considerando essas viagens vantagens indevidas ao regime de Moscou.
Opositores russos no exílio pedem distinção entre cidadãos comuns e agentes do governo, com Yulia Navalnaya sugerindo foco em oligarcas, autoridades e propagandistas.








