A Federação Norte‑Americana de Agências Agrícolas (American Farm Bureau Federation – AFBF) informou que a China vem reduzindo gradualmente sua dependência da soja dos Estados Unidos e passando a comprar o grão de outros fornecedores, com destaque para Brasil e Argentina.
Segundo a entidade, o comércio internacional tem funcionado como uma tábua de salvação para a agricultura dos EUA, tendo a China como principal destino das exportações de soja.
“Cerca de 20% de toda a produção agrícola dos EUA é destinada ao mercado externo, e essas vendas frequentemente fazem a diferença entre lucro e prejuízo no nível agrícola”, afirma a AFBF, que representa aproximadamente 6 milhões de produtores.
Neste ano, entretanto, o panorama mudou: após o pacote tarifário implementado pelo governo de Donald Trump, a China reduziu as compras de soja e de outros produtos agrícolas dos EUA, aumentando a incerteza dos agricultores diante do crescimento do déficit comercial no setor.
De acordo com a federação, a China vem diversificando seus fornecedores, voltando‑se com mais intensidade ao Brasil e à Argentina para suprir a demanda por soja, grãos e proteínas. Além disso, metas internas chinesas — como segurança alimentar e controle de preços — incentivam a distribuição das compras entre vários países, para evitar dependência dos Estados Unidos.
Conforme noticiado pelo Portal Vermelho, desde maio a China suspendeu compras de soja dos EUA em resposta às barreiras tarifárias impostas pela administração Trump; em abril, o governo chinês autorizou a cobrança de 20% sobre a commodity americana.
Com o principal comprador fechando as portas para o produto, os produtores passaram a cobrar do governo um acordo rápido que permita escoar a produção. Sem as vendas para a China e com capacidade de silos insuficiente para a safra iniciada em setembro, os fazendeiros temem falência diante da forte queda dos preços e solicitam compensações pelos prejuízos.
Brasil
Enquanto reduziram as aquisições dos EUA, os chineses ampliaram as compras do Brasil, indica a AFBF.
Para efeitos de comparação, a federação aponta que, entre janeiro e agosto de 2025, as exportações de soja dos EUA para a China totalizaram apenas 218 milhões de bushels (um bushel de soja equivale a 27,2 kg), contra 985 milhões de bushels em 2024 — quase metade de toda a exportação do grão naquele ano.
No mesmo período, o Brasil exportou 2,5 bilhões de bushels de soja para a China, aumentando sua presença no mercado chinês; a Argentina também buscou conquistar parte desse mercado ao eliminar temporariamente o imposto de exportação.
“As importações chinesas de soja não diminuíram — atingiram níveis recordes —, porém a maior parte dessa demanda agora é atendida por concorrentes. As consequências em cadeia das tensões comerciais estão se manifestando nos mercados agrícolas: a oferta global ampla e a demanda de exportação mais fraca pressionam fortemente os preços do milho, da soja e do trigo dos EUA, reduzindo as receitas apesar das colheitas robustas. Essa situação é agravada pelos baixos níveis de água no rio Mississippi, que elevam os custos de transporte”, afirma a entidade, que pede ao governo a diversificação de parceiros comerciais para que a safra de 2026 tenha desempenho diferente do observado neste ano.








