5 de dezembro de 2025
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Imperador, Papagaio e Cruz da África

Em 1876, durante a Exposição Centenária na Filadélfia, o imperador brasileiro D. Pedro II foi recebido com honras como convidado especial, marcando um momento importante nas relações diplomáticas da época. O monarca impressionou pela postura erudita e pelos modos democráticos, em contraste com estereótipos europeus. Sua presença fortaleceu a imagem do Brasil como nação progressista, associada à ciência e à inovação. Nesse evento, chamou atenção um jovem inventor chamado Graham Bell e sua criação revolucionária: o telefone. A exclamação do imperador ao testar o aparelho — “My God, it talks!” — virou manchete mundial, dando visibilidade imediata à invenção. Pouco depois, os jornais noticiaram a instalação de uma das primeiras linhas telefônicas fora dos EUA, no palácio imperial brasileiro, reforçando a imagem de modernidade do país.

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Décadas mais tarde, o estereótipo brasileiro sofreu uma transformação radical com a criação do Zé Carioca pela Disney. O papagaio malandro substituiu a imagem austera do imperador, apresentando o país como terra de alegria descompromissada. O personagem incorporava valores como cordialidade e espontaneidade, mas também sugeria certa imaturidade e falta de autonomia. Na história, o papagaio simpático dependia sempre da orientação de um parceiro mais sério. Em meio século, a representação internacional do Brasil passou de uma monarquia respeitada a uma caricatura folclórica, uma das mudanças mais drásticas na imagem de uma nação.

O Cristianismo africano esquecido

Tal como o Brasil, o continente africano teve sua imagem reinterpretada ao longo do tempo. É notável como várias narrativas modernas omitem a rica herança cristã da África. Nos Atos dos Apóstolos (8:26-39) está o relato da conversão de um alto funcionário do Reino de Cuxe, no atual Sudão — prova de que o cristianismo chegou cedo ao continente. No Egito, a Igreja Copta remonta ao século I: foi fundada por São Marcos em Alexandria. O Reino de Axum (atuais Etiópia e Eritreia) adotou o cristianismo como religião oficial no século IV, antes mesmo da conversão da França merovíngia. A liturgia etíope preserva até hoje o ge’ez, usando um alfabeto singular criado há mais de 1.500 anos.

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A resistência etíope

No século XVI, quando o avanço do islamismo ameaçava a região, a Etiópia cristã resistiu com o apoio português. O imperador Gelawdewos contou com a ajuda de Cristóvão da Gama, filho do navegador Vasco da Gama, que teve um fim trágico nas mãos do imã Ahmad. Capturado e torturado, o nobre português foi executado em praça pública. Seu sacrifício inspirou a vitória decisiva em Wayna Daga (1543), que preservou a independência etíope. Quatro séculos depois, o imperador Menelik II reorganizou um exército moderno para enfrentar o colonialismo europeu. Na Batalha de Adwa (1896), suas forças derrotaram os italianos, fazendo da Etiópia o único país africano a resistir ao imperialismo. Menelik atribuiu a vitória à fé cristã, celebrando-a com procissões e cerimônias religiosas.

Esse legado transformou a Etiópia em símbolo do orgulho africano. Adis Abeba tornou-se sede da Organização da União Africana, e as cores nacionais — verde, amarelo e vermelho — inspiram as bandeiras de vinte países do continente. Da mesma forma, outras narrativas reduziram a complexidade cultural africana a estereótipos, como ocorreu com a imagem internacional do Brasil.

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