O Brasil assume papel fundamental na preservação dos manguezais em escala mundial.
Considerados berçários da vida marinha e defesas naturais contra as mudanças climáticas, esses ecossistemas são um patrimônio vital para o país e influenciam diretamente o futuro global.
Próximo de receber a COP30 em Belém, o país não só hospeda discussões sobre o clima, como também se consolida como referência em políticas de biodiversidade e meio ambiente. Um exemplo dessa liderança é a recente entrada do Brasil no Mangrove Breakthrough, o principal programa internacional dedicado à conservação e recuperação dessas áreas.
Metas ambiciosas para conservação
A iniciativa reúne 37 países, quase vinte instituições financeiras e mais de cem entidades da sociedade civil, com o objetivo de arrecadar US$ 4 bilhões até 2030 para restaurar 15 milhões de hectares de manguezais ao redor do mundo.
A participação brasileira reforça sua ligação com esse bioma essencial: além de possuir a segunda maior área global de manguezais e a maior extensão contínua, o bioma tem importância socioeconômica e cultural. Atualmente, esses ecossistemas cobrem 7.663 km² em 16 dos 17 estados litorâneos brasileiros e estão presentes em 123 áreas marinhas protegidas.
Cerca de meio milhão de famílias têm sua sobrevivência diretamente ligada a esses habitats. Profissionais da pesca, coletores de mariscos e comunidades tradicionais garantem seu sustento enquanto colaboram com a conservação.
Benefícios ambientais e ecológicos
Milhões de brasileiros e pessoas em outras partes do mundo se beneficiam das funções ecológicas dos manguezais. Essas áreas mantêm as cadeias alimentares marinhas, atuam como barreiras contra erosão e enchentes no litoral e sequestram carbono a taxas superiores às de muitas florestas tropicais, contribuindo para o equilíbrio climático do planeta.
Estudos recentes detectaram manguezais se desenvolvendo em áreas com baixíssima ou nenhuma salinidade na região do delta amazônico, um fenômeno singular que demonstra a resistência desse bioma no território nacional.
Entretanto, os desafios permanecem significativos. Desde 1900, aproximadamente 25% dos manguezais brasileiros foram perdidos devido à urbanização desordenada, à criação inadequada de camarões e aos efeitos das mudanças climáticas.
Há, porém, motivos para esperança: cerca de 818 mil hectares degradados entre 1996 e 2020 podem ser recuperados. Para que isso aconteça serão necessários não só acordos, mas também a alocação de recursos e ações em grande escala.
Iniciativas e programas de proteção
A incorporação do Brasil ao Mangrove Breakthrough ocorre em momento crucial, com a atenção internacional voltada para a COP30. Criado durante a COP27, o programa trabalha com quatro princípios: zerar a perda causada por atividades humanas; proteger permanentemente 80% das áreas remanescentes; restaurar pelo menos metade dos locais recentemente degradados; e promover financiamentos sustentáveis.
O país já demonstra avanços nessa frente. Em março de 2024, foram criadas duas novas áreas protegidas no Pará, acrescentando 74,7 mil hectares conservados. Em junho do mesmo ano, surgiu o ProManguezal, iniciativa federal que combina ações governamentais e envolvimento comunitário para garantir a sustentabilidade desses ecossistemas.
Essas medidas estão alinhadas com as metas climáticas brasileiras: reduzir as emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67% até 2035, em relação a 2005, e acabar com o desmatamento até o final desta década.
Proteger os manguezais amazônicos, por exemplo, poderia evitar emissões equivalentes às produzidas por mais de 200 mil veículos a gasolina por ano.
A conservação e a recuperação dessas áreas não são apenas uma questão ecológica; envolvem segurança climática, desenvolvimento sustentável e inclusão das populações locais. Converter promessas em investimentos concretos é o próximo passo. O Brasil pode liderar esse processo ao integrar os setores público, privado e filantrópico, direcionando recursos para atividades econômicas ligadas aos manguezais, como aquicultura, pesca e turismo regional.
Ao alinhar suas políticas internas com programas internacionais e financiamentos sustentáveis, o país se firma como protagonista em uma nova fase da governança ambiental global, na qual meio ambiente e comunidades avançam juntos rumo a um futuro mais estável.








