O presidente norte-americano Donald Trump revelou recentemente a intenção de categorizar o movimento Antifa como uma “organização terrorista”, decisão que, segundo especialistas jurídicos, não teria respaldo legal e que analistas interpretam como tentativa de perseguir opositores políticos.
O líder republicano aproveitou o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, ocorrido no estado de Utah, para justificar medidas mais duras contra grupos progressistas, mesmo sem evidências que conectem o autor do crime a qualquer organização específica.
Em sua rede social, Truth Social, Trump descreveu o Antifa como “um movimento radical de esquerda, doentio e perigoso”, qualificando-o como “uma grande organização terrorista”.
O mandatário acrescentou que “recomendará fortemente a investigação rigorosa de quem financia o Antifa, seguindo os melhores padrões legais”, reforçando sua estratégia de usar o caso Kirk como justificativa para medidas repressivas contra críticos de seu governo.
O suposto autor do crime, Tyler Robinson, de 22 anos, foi formalmente acusado, mas não há comprovação de vínculos com o movimento Antifa ou outras entidades organizadas. Ainda assim, Trump e seus aliados seguem difundindo a narrativa de que a “esquerda radical” seria responsável pelo ocorrido.
Estão em discussão, no governo, medidas como uma ordem executiva sobre violência política e discurso de ódio, além de possíveis investigações contra organizações liberais, incluindo a Open Society Foundations, de George Soros, e a Ford Foundation.
O vice-presidente, JD Vance, reforçou o discurso, afirmando que “as redes de financiamento da violência de esquerda serão tratadas como organizações terroristas”, enquanto Stephen Miller, conselheiro da Casa Branca, declarou que todas as ferramentas do Departamento de Justiça seriam usadas para “desarticular essas redes”.
A procuradora-geral Pam Bondi mencionou que a ação incluiria ambos os lados do espectro político, embora suas críticas tenham se concentrado principalmente em governadores do Partido Democrata.
Questões jurídicas
Analistas apontam que a proposta presidencial enfrenta obstáculos legais: o Antifa não possui estrutura organizacional formal e é um movimento descentralizado. A legislação vigente permite classificar como terroristas apenas organizações estrangeiras.
Mary McCord, ex-funcionária do Departamento de Justiça, alertou que a iniciativa violaria a Primeira Emenda da Constituição. Em 2020, quando uma ideia similar foi ventilada, especialistas já indicavam sua inviabilidade jurídica e os riscos à liberdade de expressão.
Mais de cem organizações, incluindo as fundações citadas pelo governo, publicaram uma carta conjunta rejeitando o que classificam como tentativa de restringir liberdades fundamentais. O documento critica o que chamam de “esforços para silenciar vozes divergentes e limitar doações filantrópicas”.
Posicionamento de Obama
O ex-presidente Barack Obama manifestou preocupação com a postura da atual administração, condenando o que chamou de “caça a inimigos” antes mesmo da conclusão das investigações. Em discurso na Pensilvânia, ele classificou tanto a morte de Kirk quanto a da democrata Melissa Hortman como tragédias.
Obama afirmou que a função presidencial, em momentos de crise, deveria ser unir o país, não dividi-lo. O ex-mandatário descreveu o atual momento político como particularmente perigoso, marcado pelo enfraquecimento de mecanismos institucionais de controle.
Embora discordasse das ideias de Kirk, Obama defendeu o direito ao debate democrático e à expressão de opiniões divergentes, enfatizando a necessidade de diálogo respeitoso mesmo sobre temas que gerem profunda discórdia.








