Independentemente da razão ou das circunstâncias, há momentos em que surge a sensação de isolamento em relação ao mundo. São situações em que a esperança parece se esvair e a vontade de viver desaparece. Nessas horas, não hesite em buscar auxílio. Sempre haverá alguém disposto a ouvir e oferecer suporte.
Setembro Amarelo é uma campanha dedicada à prevenção do suicídio. A discussão sobre saúde mental, no entanto, deve ocorrer todos os dias, sem preconceitos.
Buscar apoio não demonstra fraqueza
Segundo a psiquiatra Maria Carol Pinheiro, é essencial entender que solicitar ajuda não significa falta de força, mas sim aceitar que precisamos dos outros para nos construirmos.
“Ao pedir suporte, não revelamos fragilidade, mas sim a sabedoria de confiar no próximo e permitir o crescimento por meio do relacionamento. A honestidade ao buscar auxílio contém o potencial de transformação e a beleza de quem ousa ser plenamente humano.”
A especialista, que também leciona na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e no curso de pós-graduação em Medicina do Estilo de Vida do Hospital Israelita Albert Einstein, enfatiza que essas palavras vão além do poético: são respaldadas pela ciência.
“Quando administramos bem o estresse, por exemplo, o cérebro produz ocitocina (o hormônio da conexão), que nos motiva a buscar amparo, fortalecer relacionamentos e, principalmente, desenvolver a coragem interior de sermos quem realmente somos”, explica.
Juliana Sato, psicóloga especializada em suicidologia e prevenção de riscos à saúde mental, complementa que a busca por apoio representa “um convite para estabelecer conexões”.
“Ao expressarmos nossos sentimentos, criamos oportunidades para que outros participem de nossas vidas e fortaleçamos nossos laços.”
“Pode ser algo tão simples como telefonar para alguém próximo e dizer ‘preciso conversar’ ou aceitar o convite de um familiar que quer acompanhá-lo a uma consulta. Esses atos demonstram que cuidar da saúde mental inclui reconhecer que fazemos parte de uma rede de relações e podemos nos apoiar reciprocamente”, completa.
A importância da escuta autêntica
É crucial que a escuta seja genuína. Isso não exige soluções imediatas. A simples disposição de acompanhar alguém que enfrenta dificuldades emocionais já constitui uma forma valiosa de suporte.
“O mais importante é estar disponível, ouvir sem críticas e aceitar os sentimentos do outro. Frases como ‘não sei exatamente o que você está vivendo, mas quero estar ao seu lado’ ou gestos como preparar uma comida ou simplesmente ficar em silêncio juntos fazem toda a diferença”, observa Juliana.
Maria ressalta a necessidade de estabelecer limites saudáveis para evitar esgotamento emocional, lembrando que ninguém deve se sentir responsável por “solucionar” a dor alheia. “Apoiar significa ajudar a suportar, não assumir o peso sozinho, criando espaços seguros para diálogo, incentivo e respeito mútuo, beneficiando todos os envolvidos.”
Cuidado que vai além do Setembro Amarelo
A atenção à saúde mental vai além dos limites da campanha Setembro Amarelo, embora esta seja fundamental. O bem-estar emocional deve ser tratado cotidianamente como forma de prevenção e conscientização.
Maria enumera diversos aspectos importantes: “É vital combater o estigma em torno da saúde mental, incentivar políticas públicas e envolver-se em iniciativas comunitárias, levando o tema para escolas, empresas, famílias e redes sociais. O cuidado permanente surge da soma de pequenas ações diárias que constroem uma cultura de acolhimento muito mais ampla do que uma campanha anual.”
Juliana enfatiza que a prevenção precisa ser contínua. “Atitudes simples no dia a dia, como perguntar sinceramente ‘como você está?’, criar oportunidades para conversas descontraídas, respeitar os momentos de silêncio enquanto se mantém disponível, ajudam a manter o tema em evidência após setembro.”
A psicóloga destaca que toda forma de sofrimento merece atenção. “Não existe uma medida para determinar quando é apropriado buscar ajuda, nem para comparar dores. O que existe é sofrimento emocional, com causas variadas. Não há uma única origem nem uma única forma de procurar auxílio. Se algo causa desconforto, angústia ou peso, já é motivo suficiente.”
“Isso pode variar desde agendar uma consulta com psicólogo até compartilhar sentimentos com um amigo ou pedir companhia em momentos difíceis. Buscar suporte é válido em qualquer fase da vida, e ninguém precisa alcançar um ‘limite’ para merecer acolhimento.”
Ações individuais rotineiras, como atenção ao sono, alimentação equilibrada, momentos de lazer, autoconhecimento e fortalecimento de vínculos, também contribuem para prevenir o agravamento de sintomas e criam ambientes mais acolhedores.
“É fundamental adotar hábitos preventivos durante todo o ano, como exercitar-se, manter diálogo aberto sobre emoções, procurar ajuda profissional quando necessário e promover espaços de escuta sem julgamentos”, conclui Maria.








