Quem possui orquídeas conhece bem a apreensão de aguardar uma nova floração. No caso da Cymbidium, espécie apreciada pela elegância e pelo prestígio entre colecionadores, a expectativa costuma ficar ainda mais tensa. Famosa por suas hastes longas que exibem flores em cascata, a planta chama a atenção por tolerar o frio e florescer no inverno. E quando isso deixa de ocorrer?
A falta de flores na Cymbidium não é um capricho da natureza, indica que algum aspecto do ambiente ou dos cuidados não atende às exigências da planta. Conforme o orquidófilo André Rocha, que mantém Cymbidiums há mais de duas décadas em sua estufa na Serra da Mantiqueira, a planta revela seu estado por meio do ciclo de desenvolvimento, e a ausência de floração sinaliza necessidade de ajustes, como na iluminação, na adubação ou no vaso.
Luz e temperatura: o par essencial para a floração
Ao contrário de muitas orquídeas típicas de climas mais quentes, a Cymbidium requer variações térmicas ao longo do dia para desencadear a floração de forma regular. Manter a planta em ambientes com temperatura estável pode interromper seu ritmo natural. Recomenda-se que ela fique em local com luz indireta intensa durante o dia e noites sensivelmente mais frias.
A engenheira agrônoma Carolina Rezende, especialista em fisiologia vegetal, aponta que a diferença térmica entre dia e noite funciona como um gatilho biológico importante para a floração, reproduzindo as condições do habitat natural dessas orquídeas nas áreas montanhosas da Ásia.
Também é preciso avaliar a intensidade luminosa: folhas muito escuras ou crescimento vegetativo lento podem indicar falta de luz. Em contrapartida, folhas excessivamente amareladas indicam exposição direta ao sol, o que também compromete a saúde da planta.
O papel da adubação no estímulo floral
Mesmo com aparência saudável, como folhas verdes e raízes ativas, a Cymbidium pode deixar de florescer quando a nutrição está desequilibrada. Nos meses que antecedem o inverno, especialmente entre março e julho, é essencial aplicar uma adubação com maior teor de fósforo, nutriente fundamental para a formação dos botões florais.
André Rocha recomenda fórmulas como NPK 04-14-08 ou 10-30-10 para essa fase. No restante do ano, o mais adequado é alternar com fertilizantes equilibrados (por exemplo, 20-20-20) para manter folhas e raízes vigorosas.
Carolina alerta ainda que aplicações excessivas de adubo ou feitas no momento inadequado podem prejudicar a floração: doses elevadas de nitrogênio próximas ao inverno estimulam o desenvolvimento de folhas em detrimento da formação de flores.
Hora de replantar? O vaso pode estar travando a floração
Um aspecto frequentemente negligenciado é o espaço disponível para as raízes. Quando o sistema radicular fica excessivamente compactado, o crescimento é limitado e a floração pode ser bloqueada. Nesses casos, o replantio torna-se necessário, mas deve ser executado com critério e no momento oportuno.
O período mais indicado para replantar a Cymbidium é logo após a floração ou ao final do inverno, quando surgem novos pseudobulbos. O substrato ideal deve ser bem drenável, composto por mistura de casca de pinus, carvão vegetal e fibra de coco. Carolina adverte para jamais utilizar substratos compactos ou com retenção excessiva de água, pois isso asfixia as raízes.
Ao replantar, remover bulbos antigos e efetuar divisões é prática recomendada quando a planta estiver muito volumosa. Cada divisão deve incluir, no mínimo, três pseudobulbos ativos para assegurar vigor e a possibilidade de futuras florações.
Regas e umidade: o equilíbrio que faz a diferença
As Cymbidiums não toleram encharcamento. Regas frequentes em locais frios ou sem drenagem adequada podem provocar apodrecimento radicular e levar ao declínio da planta. O procedimento correto consiste em verificar o substrato com os dedos e regar somente quando ele estiver ligeiramente seco.
No verão, as regas costumam ser mais frequentes, sobretudo em regiões de altas temperaturas; no inverno, quando a evaporação diminui, é necessário reduzir a frequência. Carolina recomenda o uso de borrifador em dias secos para manter a umidade relativa do ar, evitando, no entanto, encharcar o substrato.








