5 de dezembro de 2025
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Como o diário visual pode ajudar na Arteterapia

Na agitação do cotidiano, entre pressões e expectativas externas, encontrar um espaço de contato consigo revela-se fundamental. O diário visual, ferramenta da arteterapia, surge como um refúgio onde emoções afloram, vivências se transformam e o autoconhecimento se desenvolve por meio da criação.

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De acordo com a arteterapeuta Dani Galeazzo, há diferenças entre o diário tradicional e o visual. O diário escrito costuma seguir uma ordem temporal mais rígida, acumulando páginas sem possibilidade de retorno e exigindo que os afetos sejam elaborados logicamente antes da escrita. Em contraste, o diário visual incorpora a escrita livre e encontra na pintura, no desenho e na colagem a construção do simbólico, favorecendo a integração entre consciente e inconsciente.

O diário visual pode ser entendido como uma espécie de ponte: aproxima aquilo que não se consegue verbalizar, mas que é sentido intensamente. Trata-se de um objeto vivo, porque permite retornar a qualquer página para acrescentar colagens, tintas e novos traços, deixando-se transformar junto com seu autor.

O ato de traçar uma linha, escolher tonalidades e deixar a expressão fluir espontaneamente traz à tona aspectos do mundo interior. Em um contexto marcado por normas e repetições, permitir-se produzir sem julgar o resultado estético configura um ato de libertação, fazendo da imagem um espaço íntimo onde fragmentos da experiência dialogam e se articulam.

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Explosão de sentimentos complexos

Um dos desenhos do diário visual de Dani Galeazzo

O diário visual abre portas ao inconsciente, permitindo que imagens simbólicas tragam à superfície conteúdos que não cabem facilmente em palavras. Funciona como um espaço de integração interna, reunindo fragmentos diversos da experiência. Também atua como veículo de libertação criativa ao favorecer o fluxo espontâneo da imaginação e ao retirar o processo do compasso do relógio, afinando-o ao ritmo interno da criação.

A terapeuta, que combina arte, comunicação e psicologia em trajetórias de cuidado, ressalta que não é preciso dominar técnicas de desenho ou pintura para começar um diário; basta disposição para experimentar e se envolver no processo.

Retornar às páginas antigas permite identificar novas camadas de sentido, reconhecer avanços, enfrentar sofrimentos e refletir sobre emoções ainda presentes.

A especialista em terapias expressivas e mestre em psicologia Tatiana Camargo observa que a pintura, enquanto materialidade expressiva, auxilia na exploração de questões internas e sentimentos, ressignificando-os e atribuindo novos sentidos às emoções.

Inspirada em Baruch Spinoza, ela lembra que emoções alegres impulsionam à ação, enquanto as tristes podem conduzir ao padecimento. A arteterapia funciona como uma ponte transformadora: aquilo que paralisa pode ser visto, trabalhado e, com o tempo, superado. Não exige justificativas, apenas entrega: riscar, colorir, colar, modelar, mobilizando a criatividade e promovendo alterações emocionais significativas na relação consigo e com o entorno.

O diário visual propicia um percurso singular para externar emoções difíceis de nomear. Conforme Dani aponta, existem dores profundas cuja origem é desconhecida, mas cuja angústia persiste.

Esse tipo de registro permite investigar essas sensações por vias não verbais, por meio de imagens, cores e gestos, e favorece a ativação de novas conexões cognitivas. Como lembra a arte-educadora Ana Mae Barbosa, produzir arte contribui para ampliar a inteligência.

Técnicas e materiais para fazer seu diário visual

Grupo se reúne para criar e aproveitar o processo do diário visual

Para quem sente receio diante da página em branco, Dani recomenda começar de forma simples:

  • Caderno sem pautas ou folhas soltas que possam ser reunidas posteriormente;
  • Colagem de si, a partir de fotos antigas, familiares ou da infância;
  • Escrita livre sobre quem se é, acolhendo a criança interna sem preocupação com ortografia ou pontuação;
  • Garatujas e traços soltos, expressando emoções e angústias por meio de cores e formas;
  • Variedade de materiais, como canetas comuns, canetinhas e pastéis oleosos;
  • Palavras livres, listas, frases soltas ou textos que completem as imagens.

O ponto de partida pode ser a pergunta “Quem sou eu?”, respondida de maneira criativa, com colagens, cores, imagens e palavras, oferecendo um caminho inicial para a exploração interna.

A regularidade é o verdadeiro valor desse trabalho, pois cria espaço para o autoconhecimento e para uma compreensão mais profunda de si.

Revisitar páginas antigas equivale a abrir pequenas janelas do tempo. A arteterapeuta relata que, ao observar os diários produzidos no período da pandemia, coincidente com o início do climatério, identificou marcas de tristeza nas cores e nas palavras, junto a questionamentos existenciais.

Retomar essas páginas hoje com orgulho permite reconhecer a força conquistada e refletir sobre o próprio processo de transformação.

O diário visual também dá o prazer de acompanhar a própria obra: é possível acrescentar novas cores, continuar em outras folhas e criar camadas que, ao longo do tempo, revelam pensamentos íntimos.

Dani enfatiza que a falta de técnica não é um obstáculo. É comum ver pessoas chegarem ao ateliê sem experiência em artes e produzirem imagens cheias de personalidade, verdadeiras e significativas. Criar representa um gesto de coragem.

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