5 de dezembro de 2025
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Riscos do uso de IA no cuidado com a saúde mental

Receber um diagnóstico frequentemente traz alívio; não é um relato isolado.

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Ter uma explicação para as dificuldades do dia a dia, identificar a origem do sofrimento e adotar medidas para amenizar os efeitos dos transtornos mentais na vida é sempre relevante; os diagnósticos psicológicos ou psiquiátricos podem fazer parte desse processo essencial.

No entanto, existem riscos no uso abusivo dos diagnósticos, sobretudo quando se trata dos chamados transtornos mentais comuns. Ao lidar com a subjetividade, a facilidade de aceitar a explicação que um diagnóstico aparenta fornecer não pode anular a capacidade de questionamento.

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Um diagnóstico esclarece muitos aspectos, mas não define uma pessoa. Não deve constituir um obstáculo ao modo como o sujeito se vê. O perigo de que o diagnóstico se transforme em rótulo é significativo, pois essa marca pode influenciar profundamente o rumo da vida de alguém, alterando tanto a autopercepção quanto a forma como o mundo a enxerga.

Cada indivíduo é mais do que uma mera hipótese diagnóstica. Essa postura é defendida por qualquer psicoterapeuta, mesmo diante de pacientes que, com base em suas experiências ou em buscas pessoais na internet, formulam um autodiagnóstico.

O aumento dos diagnósticos ao longo do tempo

Hoje há maior propensão a receber diagnósticos. O número de categorias do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) (uma referência internacional que organiza e orienta categorias em saúde mental) triplicou desde sua primeira edição.

O DSM-I, lançado em 1952, trazia apenas 102 categorias, enquanto a versão mais recente, o DSM-5, de 2022, contém mais de 300 diagnósticos.

No âmbito desse debate, foram divulgadas nas últimas semanas notícias de que o Governo Federal aplicará 12 milhões de reais no “e-Saúde Mental no SUS”, uma plataforma tecnológica integrada que utiliza inteligência artificial para diagnóstico e tratamento de transtornos mentais na Atenção Primária.

Uma máquina de diagnósticos: inovação tecnológica ou nova roupagem para práticas antigas? O Conselho Federal de Psicologia publicou um posicionamento ressaltando os riscos da iniciativa.

A polêmica máquina de diagnósticos

Nesse contexto, a simples proposta de criar um aparelho capaz de emitir diagnósticos causa apreensão, ainda mais se for acessível via smartphone. É necessário aprofundar o debate sobre um programa cuja divulgação, até agora, é limitada.

Coloca-se, por exemplo, a questão das implicações legais desse sistema: o INSS, as empresas e os empregadores aceitarão o diagnóstico feito pela IA para conceder benefícios aos trabalhadores?

Será que um dispositivo concebido para diagnosticar saberá não emitir um diagnóstico quando este não for apropriado? Essas e outras interrogações, com vastas implicações, permanecem sem resposta.

Mesmo admitindo benefícios potenciais na máquina de diagnósticos do governo, permanece a dúvida se o sistema será capaz de evitar uma visão reducionista da saúde mental, superando tendências de medicalização e considerando o contexto de vida dos pacientes.

Além disso, não se pode desconsiderar a ausência da perspectiva humana nessa futura IA de “diagnóstico e tratamento”: aquele olhar que observa comportamento, gestos, aparência e que integra história e contexto social entre os diversos sinais que auxiliam na composição de um diagnóstico.

Que tipo de tratamento um dispositivo que não sonha, não sente e não se emociona, e, pior, nunca passou por terapia, poderia oferecer? Com agudeza poética, Gilberto Gil escreveu: o cérebro eletrônico faz tudo. Faz QUASE tudo.

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