5 de dezembro de 2025
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Crítica do filme de Guillermo Del Toro

“Aquele era o meu messias! Meu Jesus Cristo.” Assim Guillermo Del Toro definiu seu vínculo com Frankenstein, a versão protagonizada por Boris Karloff e lançada quase um século atrás, em 1931. Não poderia ser diferente: a admiração por criaturas, pelo universo gótico e pelo horror atravessa toda a obra do cineasta mexicano. Desde seu longa de estreia, Cronos, já havia claras referências ao trabalho de Mary Shelley, autora do romance que originou Frankenstein. Levou tempo, mas Del Toro conseguiu enfim, com o aporte da Netflix, que ainda persegue o cobiçado Oscar de Melhor Filme, avançar com o projeto que sempre desejou.

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O realizador escalou um elenco tanto consagrado quanto pop para esta adaptação, colocando Oscar Isaac no papel de Victor Frankenstein, o cientista que desafia a morte ao montar um ser a partir de restos humanos provenientes da guerra. Mia Goth, conhecida pela trilogia X da A24, vive Elizabeth, o amor de Victor e também da Criatura, interpretada por Jacob Elordi. O conjunto inclui ainda nomes como Christoph Waltz (no papel de Harlander), David Bradley, Ralph Ineson, Charles Dance e Felix Kammerer, este último vindo de Nada de Novo no Front.

Frankenstein surge mais uma vez como um deslumbre estético nas mãos de Del Toro e de sua equipe, algo que já era esperado desde o anúncio do filme. Ao longo de três décadas, o cineasta demonstrou maestria na construção artesanal de narrativas, cenários e criaturas: de O Labirinto do Fauno e Hellboy até o reconhecimento com A Forma da Água e Pinóquio, Del Toro consolidou-se no uso de efeitos práticos e maquiagens convincentes. Quando precisou recorrer ao CGI, em Círculo de Fogo, mostrou também compreensão de física e proporção, conferindo densidade aos robôs e kaijus. Por isso, a ênfase que certos atores de Frankenstein colocam no lado artesanal do diretor durante a divulgação acaba funcionando como cortina para aquilo que falha no roteiro.

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A história do monstro de Frankenstein já foi explorada inúmeras vezes no cinema, seja por adaptações fiéis ao texto de Shelley ou por blockbusters como Van Helsing. Resta pouco de novidade na tragédia desse Prometeu moderno que, ao tentar imortalizar a vida, semeia destruição e mortes. Del Toro aposta em recursos como um elenco de destaque, mas nem todos surtiram o efeito esperado. Mia Goth e Christoph Waltz, por exemplo, repetem tonalidades de trabalhos anteriores: o ator não escapa totalmente dos tiques que o tornaram vencedor de dois Oscars em filmes dirigidos por Quentin Tarantino, enquanto Goth dá a impressão de aguardar o momento de soltar um novo grito de estrelato, como aconteceu em Pearl e na trilogia X de Ti West.

A carga dramática recai majoritariamente sobre os protagonistas. Oscar Isaac entrega uma mistura de vocalista roqueiro e cientista obcecado — uma interpretação afetada que, porém, funciona especialmente a partir da aparição da Criatura. E aí se revela o maior trunfo de Frankenstein: Jacob Elordi, com uma maquiagem que remete nitidamente aos Engenheiros de (pasme!) Prometheus, está brilhante como o monstro em busca de sentido para sua existência. Del Toro demonstra perspicácia ao priorizar os sentimentos da Criatura e ao explorar o talento do ator, que transita com naturalidade entre a melancolia e a solidão, impondo ao mesmo tempo força e temor quando necessário. Nota-se que os grandes méritos do filme aparecem em segmentos distintos: a narrativa de Victor impressiona pela técnica, enquanto o olhar da Criatura é o ponto em que a história se torna realmente mais instigante, abordando perdão e sensibilidade. Curiosamente, é justamente nesse trecho que o longa escorrega no uso do CGI, com construções digitais bastante estranhas para animais como cervos, ovelhas e lobos.

Frankenstein está longe de configurar um filme ruim. A trilha de Alexander Desplat é belíssima, e nada diminui o mérito de ver uma narrativa de mais de 200 anos ainda tratada com tanta dedicação e cuidado. Talvez Del Toro peque por amar demasiado a obra: o diretor fica preso à necessidade de demonstrar a grandiosidade de seu conto, algo que também aconteceu em A Colina Escarlate e O Beco do Pesadelo, filmes que compartilham traços com esta nova versão. Falta, nesta obra, a sensibilidade vista quando recontou Pinóquio de forma exemplar, quando construiu o romance ao estilo A Bela e a Fera em A Forma da Água, ou quando expôs os horrores da guerra pela ótica infantil em O Labirinto do Fauno. Frankenstein é visualmente impressionante, mas acaba sendo morno e comum — algo distante tanto da obra de Mary Shelley quanto dos grandes filmes do diretor.

Frankenstein

Ano:2025
País:EUA
Classificação:18 anos
Duração:149 min
Direção:Guillermo del Toro
Roteiro:Guillermo del Toro
Elenco:
Ralph Ineson
Jacob Elordi
Christoph Waltz
David Bradley
Burn Gorman
Charles Dance
Mia Goth
Oscar Isaac

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