5 de dezembro de 2025
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Por que mais idosos morrem após quedas?

Caminhar com o cão passou a ser perigoso. Earl Vickers costumava levar Molly, sua mistura de pastor com boxer e outra raça indefinida, para passeios pela praia ou pelo bairro em Seaside, Califórnia. Porém, há alguns anos passou a ter dificuldade para se manter em pé.

Continua após a publicidade

Vickers, 69 anos, engenheiro elétrico aposentado, relatou que, sempre que outro cachorro se aproximava, acabava no chão. Segundo ele, as quedas ocorriam em média a cada dois meses.

A maioria dessas quedas não resultou em lesões graves, embora, em uma ocasião, tenha caído de costas e batido a cabeça em uma parede. Vickers disse não acreditar que tenha sofrido concussão, mas afirmou que definitivamente não quer passar por isso todos os dias. Em outra situação, ao tentar amortecer a queda, fraturou dois ossos da mão esquerda.

Continua após a publicidade

Em 2022, disse ao oncologista que o acompanhava por câncer de próstata que queria interromper o uso intermitente da enzalutamida, medicamento que tomava há quatro anos e é comercializado como Xtandi.

Nos efeitos adversos descritos para o remédio constam taxas maiores de quedas e fraturas entre quem o tomou do que entre os participantes que receberam placebo. O médico concordou com a suspensão e, desde então, Vickers afirma não ter tido mais quedas.

A gravidade do problema

Há décadas, especialistas em saúde pública alertam para os riscos que quedas representam para pessoas idosas. Em 2023, o dado mais recente dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) indica que mais de 41 mil americanos com mais de 65 anos morreram em consequência de quedas, conforme ressaltado em um artigo de opinião no JAMA Health Forum no mês passado.

Mais preocupante do que esse total foi outra constatação: a mortalidade associada a quedas entre idosos vem crescendo de forma acentuada.

O epidemiologista Thomas Farley afirmou que as taxas de mortalidade por lesões decorrentes de quedas em americanos com mais de 65 anos mais que triplicaram nas últimas três décadas. No grupo de maior risco, pessoas com mais de 85 anos, as mortes por quedas saltaram para 339 por 100 mil em 2023, ante 92 por 100 mil em 1990.

Farley atribui esse aumento à crescente dependência de medicamentos prescritos entre os americanos. Segundo ele, os idosos têm recebido muitos remédios, frequentemente inadequados para a idade, algo que não teria ocorrido no Japão ou na Europa.

Esse mesmo período de 30 anos, no entanto, registrou várias pesquisas e iniciativas destinadas a reduzir quedas em idosos e suas consequências potencialmente devastadoras, como fraturas de quadril, hemorragias cerebrais, perda de mobilidade, dor crônica e institucionalização.

A Sociedade Americana de Geriatria publicou diretrizes atualizadas para prevenção de quedas em 2011. O CDC lançou o programa STEADI em 2019. A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos recomendou exercícios ou fisioterapia para idosos em risco de queda em 2012, 2018 e novamente no ano passado.

Donovan Maust, psiquiatra geriátrico e pesquisador da Universidade de Michigan, observou que houve estudos, intervenções e investimentos, mas esses esforços não foram particularmente eficazes. Segundo ele, trata-se de um problema sério que parece estar se agravando.

Seriam, então, os medicamentos prescritos os responsáveis por esse aumento? Profissionais que estudam quedas e práticas de prescrição, incluindo geriatras, colocam essa conclusão em xeque.

Medicamentos e outros fatores

Farley, ex-comissário de saúde da cidade de Nova York e atualmente docente na Universidade Tulane, reconheceu que diversos fatores contribuem para quedas, entre eles limitações físicas e declínio da visão relacionados ao envelhecimento, abuso de álcool e riscos de tropeços dentro das residências.

Ele argumentou que não há motivo para supor que qualquer um desses fatores tenha se agravado três vezes nos últimos 30 anos, citando estudos que indicam reduções em outros países de alta renda.

Para Farley, a diferença estaria no aumento do consumo de medicamentos pelos americanos, entre eles benzodiazepínicos, opioides, antidepressivos e gabapentina, que atuam no sistema nervoso central.

Segundo ele, os fármacos que elevam a mortalidade por quedas são aqueles que provocam sonolência ou tontura.

O número de medicamentos problemáticos é tão grande que receberam uma sigla: FRIDs, ou medicamentos que aumentam o risco de queda. Essa categoria inclui também vários medicamentos cardíacos e anti-histamínicos antigos, como o Benadryl.

Thomas Gill, geriatra e epidemiologista da Universidade de Yale e pesquisador de quedas de longa data, concorda que esses remédios têm papel importante, mas alerta que existem explicações alternativas para o aumento nas taxas de mortalidade.

Por outro lado, o uso de antidepressivos e de gabapentina aumentou. Independentemente de os medicamentos serem ou não a principal causa, ninguém discorda que esses agentes são frequentemente superutilizados e empregados de forma inadequada, contribuindo para a preocupante alta da mortalidade por quedas entre idosos, afirmou Gill.

Segue, assim, a campanha pela desprescrição: interromper medicamentos cujo risco potencial supera os benefícios ou reduzir suas dosagens.

Michael Steinman, geriatra da Universidade da Califórnia, São Francisco, e codiretor da Rede de Pesquisa de Desprescrição dos EUA, criada em 2019, afirmou que muitos desses fármacos podem aumentar as quedas entre pacientes idosos na faixa de 50% a 75%.

Continua após a publicidade

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Vitória, ES
Amanhecer
04:53 am
Anoitecer
06:11 pm
22ºC
Chuva
0mm
Velocidade do Vento
4.12 km/h
06/12
Sáb
Mínima
21ºC
Máxima
25ºC
07/12
Dom
Mínima
21ºC
Máxima
26ºC
08/12
Seg
Mínima
23ºC
Máxima
28ºC
09/12
Ter
Mínima
23ºC
Máxima
28ºC

Volta Ecológica defende os Manguezais de Vitória

Tony Silvaneto

Leia também