O nascimento de um bebê transforma o mundo de uma mãe, mas o puerpério lembra que ela também precisa ser cuidada. Entre mudanças físicas, hormonais e emocionais, esse período exige acolhimento, delicadeza e uma rede de apoio que observe não apenas o recém-nascido, mas também a mulher que nasce junto com ele.
Cuidados físicos
Chamado puerpério, o período pós-parto inicia com a saída da placenta e se encerra com a primeira ovulação; em geral, a duração varia entre 45 e 60 dias após o parto.
Depois das grandes transformações da gestação, o corpo passa por novas alterações: flacidez abdominal, involução uterina, sangramentos — conhecidos como quarentena — e mudanças nas mamas são manifestações comuns.
“As variações hormonais são marcantes e podem desencadear não apenas efeitos físicos, mas também emocionais, já que a queda hormonal é significativa nesse momento”, explica a ginecologista e obstetra Mariana Cocuzza.
Por isso, é fundamental atentar para a saúde física mesmo com as demandas do bebê. Nos primeiros dias e semanas, os cuidados básicos incluem atenção às mamas para prevenir fissuras, acúmulo de leite e mastite, além de higiene adequada: na região perineal após parto vaginal e da cicatriz em caso de cesariana.
O acompanhamento profissional é essencial também para a mãe. O obstetra avalia a recuperação, identifica sinais de infecção, problemas na cicatrização e dificuldades relacionadas à amamentação.
“Existem profissionais especializados no apoio à amamentação, como enfermeiras obstetras e consultoras de amamentação, que representam um suporte importante. Para algumas mulheres, especialmente as que tiveram parto normal, a fisioterapia do assoalho pélvico é indicada para fortalecer a musculatura e prevenir complicações futuras”, destaca Mariana.
Práticas de autocuidado fazem diferença no dia a dia das puérperas, principalmente porque a queda hormonal aumenta a vulnerabilidade emocional. Essa fragilidade pode levar ao chamado baby blues ou, em casos mais graves, à depressão pós-parto.
“Ter um momento tranquilo, possibilitado por uma boa rede de apoio, é essencial para que a mulher consiga tomar um banho com calma, dormir, lavar o cabelo, sentar para comer ou conversar com o parceiro. São ações básicas do cotidiano que, diante das tantas demandas do pós-parto, muitas vezes ficam de lado.”
Cuidados emocionais
As transformações provocadas pela gestação geralmente ocorrem de forma abrupta, e essa rapidez dificulta a assimilação das mudanças no corpo e na mente.
“O corpo modifica-se durante a gestação e o humor também pode mudar, muitas vezes de formas indesejadas. Dependendo do estado emocional de cada mulher, isso pode desencadear alterações na vida emocional dela”, explica a psicóloga perinatal Natália Aguilar.
“O puerpério, biologicamente, é um período que potencializa crises. Quando a placenta é retirada ocorre uma queda abrupta dos hormônios que mantinham a gravidez. Antes havia uma ‘bomba’ hormonal e, de repente, isso deixa de existir — trata-se de um processo de adaptação intenso para o organismo.”
Com o nascimento, outra mudança brusca acontece: o corpo que abrigou uma criança precisa adaptar-se a uma nova realidade física e ainda despender energia nos cuidados com o bebê.
“Essa necessidade de ajustar-se e adaptar-se a tantas transformações pode trazer vulnerabilidade emocional: o humor pode oscilar, há mais choro e até a vivência de luto pela mulher que precisou deixar de ser de maneira tão abrupta.”
A romantização da maternidade atrapalha o acolhimento de mulheres em vulnerabilidade emocional. A ideia de que “quando nasce um bebê, nasce uma mãe” é simplista e nem sempre corresponde à experiência real.
A psicóloga ressalta que, nesse período, as mulheres estão aprendendo a ser mães ao lado do bebê, enquanto a criança também aprende a viver fora do útero.
“Essa mãe pode não saber o que fazer de imediato e ter dificuldade em identificar sinais do bebê. O tal ‘instinto materno’ muito citado, na prática, não é algo automático.”
Acolhimento e apoio no puerpério
Diante das várias vulnerabilidades e desafios — físicos, emocionais, sociais e maternais — é necessário um acolhimento afetuoso às mulheres, com atenção voltada não apenas ao recém-nascido, mas também à mãe.
É natural que as puérperas sintam cansaço pela mudança de rotina, mas torna-se preocupante quando essa sensação é constante. Muitos relatos apontam para mulheres que não conseguem manter a higiene diária, trocar de roupa, dormir ou fazer uma refeição completa, porque as atenções concentram-se no bebê e sobra pouco tempo para o autocuidado.
“Durante a gestação, a mãe foi cuidada para que o bebê também recebesse atenção. Depois do nascimento, esse cuidado precisa continuar. Mesmo fora do ventre, recém-nascido e mãe seguem sendo uma dupla — o que acontece com um afeta o outro.”
Nesse contexto, a rede de apoio — família, amigos, comunidade e sistema de saúde — torna-se indispensável, pois faz com que a mãe se sinta cuidada e, consequentemente, fique mais disponível para acolher e participar do desenvolvimento da criança.
A função da rede de apoio não se limita a retirar o bebê do colo e dizer “vai descansar”. O objetivo é favorecer que a mãe esteja o mais disponível possível para o filho, aprendendo com ele nessa dinâmica da maternidade, conforme ressalta a psicóloga.
Assumir tarefas domésticas, cuidar dos outros filhos e ajudar com demandas do trabalho são exemplos de apoios práticos que aliviam a rotina da mãe e influenciam diretamente o bem-estar dos bebês.
“Existe um provérbio africano que diz: ‘Para cuidar de uma criança é necessária toda uma aldeia’. Ao entender que uma criança é responsabilidade de todos, parte-se do princípio de que essa mãe precisa estar disponível psiquicamente para o bebê.”








