Um ministro do STF disse ter sido surpreendido com a postura de Tarcísio, observando que ele é o governador de São Paulo e não estava entre os bolsonaristas radicais tradicionalmente associados ao movimento.
Outro integrante da Corte afirmou que, ao abandonar o tom institucional, o chefe do Estado paulista acabou cedendo à tentação de “pagar uma fatura” para obter o apoio do ex-presidente e se posicionar como o principal candidato da direita em 2026. Um terceiro magistrado recordou que Tarcísio sempre procurou cultivar boa relação com membros do STF, mantendo contatos frequentes, mas que, depois do ataque a Moraes, pode ter comprometido pontes importantes com a cúpula do Judiciário.
Mediações e tentativas de apaziguamento
Nos últimos anos, Tarcísio atuou para reduzir a tensão entre bolsonaristas e o STF. Foi responsável por promover, a portas fechadas, o encontro entre o senador Jorge Seif (PL-SC) e Alexandre de Moraes, visando evitar a cassação de mandato no TSE, segundo a colunista Bela Megale. O governador também demonstrou deferência ao ministro ao não atender a um desafeto de Moraes na escolha do procurador-geral de Justiça de São Paulo, conforme reportou a revista piauí.
Relação durante o governo Bolsonaro
A aproximação entre Tarcísio e Moraes se intensificou ainda no governo Bolsonaro, quando o então presidente mantinha embates constantes com o ministro. Naquele período, o então ministro da Infraestrutura buscou a intermediação do ex-presidente Michel Temer, que havia indicado Moraes para a Corte, na tentativa de apaziguar os ânimos.
Imagem de moderador e críticas internas
Desde então, Tarcísio cultivou uma imagem de bolsonarista moderado, o que irritou parte dos apoiadores do ex-presidente, que viam nele uma postura ambígua e sem capacidade de influenciar Moraes. Parlamentares da oposição se ressentiram, por exemplo, da incapacidade do governador em reverter a decisão de reter o passaporte de Bolsonaro.
A evolução dessas posições e atitudes seguiu movimentando debates nos círculos políticos e no Judiciário.
Escalada retórica e tentativa de anistia
Para contornar a desconfiança e demonstrar fidelidade ao ex-presidente, o governador passou a adotar um tom mais antagonista em relação a Moraes. Declarou que assinaria um eventual indulto a Bolsonaro se obtivesse a presidência em 2026 e articulou esforços para tentar destravar uma anistia ampla ao ex-chefe.
— A impunidade, a omissão e a covardia não são opções para a pacificação — disse o ministro.
Neste domingo, Tarcísio atacou frontalmente Moraes. O decano do STF respondeu publicamente, afirmando em rede social que o país não suporta mais as tentativas repetidas de golpe e que crimes contra o Estado Democrático de Direito não são passíveis de perdão, devendo as instituições puni-los com rigor para que não se repitam.
Percepção do Centrão
No entendimento de lideranças do Centrão, Tarcísio exagera ao buscar a bênção de Bolsonaro para 2026. Políticos experientes defendem que o governador deveria consolidar apoio no centro, adotando um tom mais moderado, em vez de acenar à direita radical. Há, ainda, a hipótese de que o ex-presidente use o aliado para pressionar o STF e, depois, descartá-lo.
De toda forma, colocar Bolsonaro acima de todas as prioridades pode manter Tarcísio competitivo na disputa à direita para 2026, mas não garante que o governador conseguirá viabilizar o projeto de chegar à presidência.








