Entre aqueles que observam o desenvolvimento e as implicações sociopolíticas da Inteligência Artificial (IA), duas posições se destacam: a dos temerosos, que alertam para os riscos do desenvolvimento técnico-científico, e a dos entusiastas, que veem na IA a solução para os problemas da sociedade. No entanto, a realidade apresenta nuances complexas, com interesses financeiros, tecnológicos e políticos moldando a disputa pelo controle dessa tecnologia.
A filósofa espanhola Adela Cortina, especialista em Ética e Filosofia Política, ressalta que a IA é um conhecimento científico que deve ser direcionado corretamente. Segundo ela, se o controle estiver nas mãos de grandes corporações ou governos com ambições de poder, não há garantias de que será utilizado para o bem comum.
O uso da IA em conflitos
A Inteligência Artificial tem sido empregada em conflitos bélicos, como no desenvolvimento de drones capazes de realizar ataques precisos. Essas aeronaves autônomas, controladas remotamente, transformam a guerra em um jogo de morte em tempo real, ampliando os dilemas éticos em torno da tecnologia.
A IA é saber científico e técnico que deve ser conduzido para alguma direção. Se quem o controla são grandes empresas que querem poder econômico ou países que querem poder geopolítico, então, não há nenhuma garantia de que será bem utilizado – Adela Cortina
A disputa geopolítica pela IA
Estados Unidos e China lideram a corrida pelo domínio tecnológico da IA. Enquanto os EUA buscam manter sua liderança global, a China investe em autossuficiência, desenvolvendo sistemas avançados de pagamento e geolocalização. Especialistas apontam que apenas a China tem condições de desafiar a hegemonia tecnológica norte-americana.
Essa competição pela IA e seus impactos sociais são tema do evento “Ciclo de Estudos A corrida pela Inteligência Artificial. Distopias capitalistas e resistências decoloniais”, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos. O encontro inclui discussões sobre colonialismo digital e tecnofeudalismo, com participação de pesquisadores especializados.
O poder das grandes empresas de tecnologia
A influência das big techs ultrapassa fronteiras, afetando até mesmo a soberania de nações. Líderes dessas corporações acumulam poder comparável ao de governos, interferindo em decisões políticas e econômicas globais. Casos como sanções econômicas contra o Brasil exemplificam essa dinâmica preocupante.
O abuso de poder econômico e dominante das big techs influencia não apenas a sustentação empresarial mundial, mas também o cenário econômico e político global, o que é altamente preocupante – Sthefano Scalon Cruvinel
Evento sobre Inteligência Artificial
O Ciclo de Estudos busca analisar as relações entre avanços tecnológicos, especialmente em IA, e as transformações no capitalismo contemporâneo. A programação inclui discussões sobre novas formas de exploração tecnológica e alternativas decoloniais, com transmissão online gratuita.
Mardochée Ogecime, pesquisador especializado em economia política da informação, será um dos palestrantes. Com formação multidisciplinar, ele estuda capitalismo informacional e as implicações das tecnologias digitais.








