Em meio a tantas espécies de suculentas e plantas ornamentais, algumas parecem desafiar os padrões naturais com cores inesperadas e tons vibrantes. É o caso dos cactos coloridos, que despertam curiosidade e fascínio por onde passam. Com variações em rosa-choque, roxo intenso, amarelo vivo e até laranja, essas plantas exóticas frequentemente circulam nas redes sociais e nas prateleiras de floriculturas — e a pergunta que fica é: eles são reais ou truques da jardinagem moderna?
Na verdade, a resposta é um pouco das duas coisas. Embora existam cactos com nuances diferentes graças à genética, muitas das versões coloridas mais chamativas são resultado de mutações específicas ou de enxertos cuidadosamente feitos, técnicas que transformam a aparência natural da planta sem comprometer sua estrutura. Segundo o botânico Renato Villar, pesquisador em fisiologia vegetal, “essas variações cromáticas geralmente surgem de mutações espontâneas ou são induzidas em laboratório, mas é o enxerto que garante a sobrevivência de muitas dessas plantas, já que nem todas conseguem produzir clorofila”.
Quando a natureza precisa de ajuda: mutações e enxertos
A maioria dos cactos coloridos não produz clorofila suficiente para realizar fotossíntese por conta própria. É por isso que, na prática, muitas dessas espécies precisam ser enxertadas sobre o caule verde de outro cacto comum, como o Hylocereus, que passa a servir como base nutritiva. O resultado é uma planta bicolor — com um corpo de tom vibrante sustentado por um tronco verde.
Entre os exemplos mais conhecidos estão os cactos Gymnocalycium mihanovichii, muitas vezes apelidados de “cacto lua” quando aparecem em tonalidades de vermelho, rosa ou laranja. Sem esse suporte, sua coloração vívida não seria suficiente para garantir a sobrevivência.
De acordo com a engenheira agrônoma Lívia Chagas, especialista em suculentas ornamentais, essa característica exige atenção redobrada no cultivo: “Ao contrário dos cactos tradicionais, esses exemplares não podem ser plantados diretamente na terra. Eles dependem da base enxertada e precisam de ambiente com luz filtrada, sem excesso de sol direto, para não queimarem”.
Cuidados essenciais para manter os cactos coloridos saudáveis
Embora a aparência exuberante chame a atenção à primeira vista, é importante lembrar que o cultivo dessas suculentas exige alguns cuidados específicos. Por serem plantas mais sensíveis — tanto pela falta de clorofila quanto pela técnica de enxertia —, elas demandam atenção à luminosidade, drenagem e umidade do solo.
Segundo Lívia Chagas, o ideal é colocá-los em locais com luz difusa, como varandas bem iluminadas ou perto de janelas com cortinas finas. O substrato deve ser arenoso e bem drenado, composto por terra vegetal, areia grossa e perlita. Regas devem ser moderadas: apenas quando o solo estiver completamente seco, já que o excesso de água pode comprometer tanto o cacto colorido quanto o caule que o sustenta.
Renato Villar também alerta sobre outro ponto: a longevidade. “Por dependerem do cacto-base, essas versões enxertadas podem ter vida útil mais curta que as naturais. Além disso, é comum que a parte superior acabe descolando com o tempo, exigindo um novo enxerto para manter a planta viva”.
Exuberantes, mas nem sempre sustentáveis
Com o crescimento do interesse por plantas exóticas, o mercado de cactos coloridos tem se expandido — mas nem sempre com responsabilidade. É importante verificar a procedência das mudas, optando por produtores confiáveis e evitando compras por impulso em feiras ou lojas sem orientação técnica. Algumas versões vendidas com tinta artificial ou tingimentos temporários podem prejudicar a planta, ou até mascarar seu estado real de saúde.
Aliás, se você busca uma experiência mais duradoura e sustentável com cactos, o ideal é começar pelas espécies naturalmente coloridas, como o cacto equinocacto com tons avermelhados nas pontas, ou o Opuntia com bordas arroxeadas. Eles não precisam de enxertos para viver e são igualmente encantadores.
