Ser um “doador em excesso” significa que o padrão automático é dar mais do que é saudável, sustentável ou recíproco. Não se trata apenas de tempo ou ajuda, mas também de oferecer energia emocional, presença, preocupação, perdão e infinitas segundas chances, muitas vezes às custas dos próprios limites.
Um estudo de 2014 destaca o quanto o esforço é central para a satisfação romântica. Os pesquisadores analisaram dados de 795 casais casados e descobriram que a percepção de cada parceiro sobre seu próprio esforço, e sobre o esforço do outro, estava diretamente ligada à qualidade do casamento e até mesmo à propensão ao divórcio.
Surpreendentemente, o esforço de um parceiro afetava diretamente o nível de satisfação do outro. Isso comprova algo que as pessoas que doam demais costumam sentir: o esforço precisa vir dos dois lados.
Quando só uma pessoa investe na relação, isso não apenas esgota emocionalmente como também desequilibra a dinâmica necessária para um relacionamento saudável.
Formas sutis de estar dando mais do que é saudável
Então, como saber se você está preso nesse ciclo? Aqui estão três formas sutis, porém poderosas, pelas quais pode estar dando mais do que é saudável:
1. Você sente ressentimento nos relacionamentos
Um estudo de 2022 concluiu que as pessoas tendem a se sacrificar por seu parceiro romântico mesmo sem esperar reciprocidade. Em um experimento com 72 participantes, os pesquisadores usaram o teste do “banho gelado” e observaram que os participantes toleraram muito mais dor por seus parceiros do que por amigos ou em outras situações.
Isso mostra que o sacrifício no amor não precisa ser uma troca direta. Muitas pessoas se sacrificam sem esperar nada em troca. Mas quando esse esforço é constantemente unilateral ou passa despercebido, o custo emocional se acumula e pode transformar o amor em amargura.
Pessoas que se veem como as “doadoras” da relação costumam agir por amor, esperando que esse esforço seja retribuído. Pensam: “Se eu te amar o suficiente, talvez você me ame do mesmo jeito.” Essa crença as leva a fazer de tudo para garantir a felicidade do parceiro, mas acabam se sacrificando demais.
Quando esse esforço não é reconhecido ou retribuído, gera ressentimento e torna o relacionamento insustentável emocionalmente.
2. Você sente culpa ao expressar suas necessidades
Pessoas que doam demais tendem a minimizar suas próprias necessidades. Dizem “sim” quando querem dizer “não” e colocam os sentimentos dos outros acima dos próprios. Muitas vezes, duvidam de que merecem amor, acreditando que seu valor está em serem úteis, cooperativas ou altruístas.
Elas acreditam que o amor precisa ser conquistado e não recebido simplesmente por quem são. Um estudo de 2016 publicado no Journal of Personality descobriu que o “afeto positivo condicional” está ligado a níveis mais baixos de satisfação nos relacionamentos.
Quando o amor é condicional, ele mina a autonomia das pessoas e gera a sensação de que elas não são realmente aceitas como são. A conclusão: para serem amadas, sentem que precisam merecer isso.
Para os doadores excessivos, isso muitas vezes se traduz em culpa por ter necessidades. Expressar algo simples, como precisar de espaço ou descanso, pode parecer egoísta ou como se tornasse você “difícil de amar”.
3. Você se pega compensando em excesso
Um estudo de 2025 publicado na Behavioral Sciences investigou os medos mais comuns em relacionamentos românticos, com base em dados de mais de 1.000 jovens adultos. O medo mais citado foi o de não ser suficiente ou de não conseguir atender às expectativas do parceiro.
Esses dados revelam uma verdade mais profunda sobre muitos conflitos em relacionamentos: o medo de não ser suficiente, ou de se perder tentando ser. Para doadoras em excesso, esse medo nem sempre aparece como afastamento, mas como compensação exagerada: assumir tarefas demais, tentar com mais afinco, fazer mais pelo outro, mesmo sem ser pedido.
Esse padrão geralmente nasce de medos internos, como: “Não sou suficiente”, “Sou demais”, “Sou um fardo”. Esses pensamentos vêm da crença de que seu valor está no que você faz pelos outros, não em quem você é.








