Vivemos em uma época onde as conexões são rápidas, mas os laços emocionais parecem frágeis. Embora iniciar uma conversa nunca tenha sido tão fácil, a verdadeira dificuldade reside na manutenção de um relacionamento duradouro. Este desafio nos leva a refletir sobre o que impede a formação de vínculos amorosos genuinamente autênticos e o que devemos aprender ou desaprender para alcançá-los.
No encerramento da “Jornada Vida Simples – melhore suas relações e seja mais feliz”, o psicólogo Marcos Lacerda ofereceu uma análise profunda sobre o tema.
O Contraste entre Aparência e Essência
A questão central é: “Precisamos realmente de vínculos?” Em uma sociedade onde o isolamento emocional se tornou comum, deve-se redescobrir esta necessidade humana fundamental. Segundo Lacerda, para existir, não basta termos apenas alimento e abrigo; é essencial recebermos afeto. Isso ficou evidente após a Segunda Guerra Mundial, quando crianças em orfanatos, apesar de bem alimentadas, não sobreviviam devido à ausência de afeto. Isso ilustra que sem vínculos, a existência pode ser insustentável.
A autenticidade é um componente crucial nos vínculos. Um relacionamento autêntico, seja ele amoroso ou de amizade, permite que as pessoas sejam verdadeiramente elas mesmas. Contudo, esta autenticidade é incomum, pois muitas vezes vivemos em um ambiente onde há um acordo implícito de adaptação social. Isso não quer dizer falsidade, mas sim um aprendizado de moldar-se para aceitação social, processo este que começa na infância segundo a teoria do “falso eu” de Donald Winnicott.
Dessa forma, muitas pessoas passam a vida sem saber se suas escolhas foram genuínas ou apenas para satisfazer expectativas dos outros, resultando em uma desconexão emocional que permeia todas as relações.
Quando não se é verdadeiro consigo mesmo, tende-se a esperar o mesmo do outro, criando uma relação insustentável onde ambos se tornam prisioneiros de expectativas irreais.
O Valor da Vulnerabilidade
Autenticidade em vínculos reais demanda vulnerabilidade, o que, por sua vez, envolve o risco da rejeição. Embora muitos afirmem não se importar com a opinião alheia, na prática essa preocupação molda comportamentos, ideias e escolhas para se encaixar nas expectativas externas. O ato de se permitir ser vulnerável é uma atitude revolucionária e exige encontrar pessoas que apoiem e compreendam, reciprocidade esta que deve ser oferecida em retorno.
A escuta ativa e empática é fundamental para a construção de relações verdadeiras e requer prática e humildade. Conforme Lacerda sugere, em conversas, é comum filtrar o que é dito através do próprio prisma, enquanto a escuta autêntica busca compreender a perspectiva do outro sem julgamentos.
Exemplificando, ao narrar experiências inusitadas, a verdadeira escuta acolhe o relato, respeitando a percepção individual de quem compartilha.
Estabelecer um ambiente seguro para a vulnerabilidade começa pela escuta atenciosa.
Construção de Laços Saudáveis
Amor consiste em aceitar e lidar com as diferenças do outro.
Esse entendimento pode ser desafiador, pois foge à visão romantizada do amor como refúgio emocional sem conflitos. Vínculos saudáveis não são isentos de discordâncias, mas sua solidez permite que divergências não minem a relação. A segurança emocional advém da liberdade de ser completo e verdadeiro, tal como é e permitir que o outro o seja.
Para nutrir laços saudáveis, é essencial ter clareza emocional e uma disposição genuína para manter e resguardar o vínculo, o que se traduz em uma comunicação cuidadosa e ponderada.
A compreensão da “falácia da completude”, contemplada por Lacerda, é vital. Relações falham quando se espera que o parceiro preencha lacunas existenciais intrínsecas a cada indivíduo. Nenhuma conquista pessoal ou material elimina o vazio interno humano, portanto, as relações devem ser espaços de encontro entre seres imperfeitos que, apesar das suas carências, podem nutrir amor mútuo.
A jornada Vida Simples promoveu diálogos sobre relações humanas, abordando a importância da consciência, presença e afeto. Durante a edição, Marcos Lacerda compartilhou suas percepções sobre como cultivar vínculos amorosos mais felizes, baseando-se em sua experiência com relacionamentos e autoestima. Essa iniciativa destacou que somos inerentemente seres relacionais, onde os laços interpessoais influenciam nosso bem-estar e decisões. O evento ainda contou com contribuições em relações familiares e profissionais, ampliando a compreensão sobre construção de laços significativos.








